Infomoney - SP 23/05/2025
Mesmo que o governo federal resolva tomar alguma atitude para coibir os altos volumes de aço que estão chegando ao Brasil, a indústria siderúrgica nacional seguirá pressionada por vários meses, diante da internalização do material que está aguardando desembarque em portos do país.
A avaliação foi feita nesta quinta-feira pelo presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aços Planos (Inda), Carlos Loureiro, que há vários meses tem ecoado críticas à política comercial brasileira em um momento de protecionismo global.
“O número hoje de material plano que tem chegado ao Brasil faz a importação o terceiro maior fornecedor do país”, disse Loureiro em entrevista a jornalistas sobre o desempenho do setor no primeiro quadrimestre do ano.
Pelas contas do Inda, a importação de aço plano no Brasil em abril cresceu 21% sobre um ano antes, para 293,26 mil toneladas, acumulando de janeiro ao final do mês passado uma expansão de 31,7%, para 1,09 milhão de toneladas.
O avanço ocorreu mesmo com o regime de cotas e tarifas criado pelo governo federal no ano passado, e que vai expirar no final deste mês se não for renovado.
Até agora o governo federal deu poucas indicações sobre seu interesse em estender o esquema que prevê 25% de tarifa para 11 produtos siderúrgicos que ultrapassarem cotas de importação estabelecidas com base nos volumes que chegaram ao país em 2023.
Loureiro citou que “há boatos” de que o governo poderá optar por modificar o esquema para eliminar as cotas e definir os 25% de sobretaxa sobre todos os produtos siderúrgicos da China na próxima semana, mas frisou que os rumores são mais baseados na esperança do setor, que há meses cobra do governo mais medidas de defesa comercial.
Segundo ele, o principal porto importador de aço plano do Brasil, São Francisco do Sul (SC), tem um line-up de navios esperando para descarregar ou que avisaram que vão chegar ao terminal nos próximos meses que soma cerca de 750 mil toneladas, fora as cerca de 200 mil toneladas que já estão nos depósitos.
“Está muito claro para nós que mesmo venha uma solução Esse material vai fazer pressão sobre o mercado pelo menos nos próximos quatro a cinco meses”, afirmou.
ABRIL
Depois de um mês de abril em que as vendas caíram 4,3% ante março e 4,5% sobre o mesmo período de 2024, para 317 mil toneladas, o Inda espera que o volume a ser comercializado em maio mostre alta de 3%, acumulando nos cinco primeiros meses do ano aumento de 1,5%.
Em abril, a venda por dia útil foi equivalente a 15,9 mil toneladas, volume acima das 15,1 mil toneladas de um ano antes e que mostra ainda uma demanda saudável no país, apesar do ambiente de juros elevados que tendem a minar o consumo de aço.
Os estoques entre os distribuidores alcançaram 1,06 milhão de toneladas em abril, praticamente estáveis ante março, mas quase 16% acima de um ano antes. O volume foi equivalente a cerca de 3,3 meses de vendas, nível considerado elevado e que causa preocupação da entidade, uma vez que os preços estão em tendência de queda pela pressão da importação.
“Alguns distribuidores fecharam o mês com prejuízo contábil em função de redução de preço por algumas usinas”, disse Loureiro, sem identificar nomes.
Na outra ponta, das exportações, o volume de aços planos vendido pelo Brasil ao exterior somou 535 mil toneladas em abril, queda de cerca de 30% sobre março, pressionado por um recuo de 31% nas vendas aos Estados Unidos, para 444 mil toneladas.
No acumulado do quadrimestre, porém, as vendas externas de aços planos aos EUA, segundo o Inda, ainda mostram crescimento de 21% sobre um ano antes, somando 2,23 milhões de toneladas. Os EUA seguem como principal destino de exportação siderúrgica do Brasil, com 85% de participação no acumulado de janeiro a abril, apesar do fim das cotas de importação sem imposto e elevação da sobretaxa para 25% decidida por Washington em fevereiro.
Diário do Comércio - MG 23/05/2025
O Instituto Nacional de Distribuidores de Aço (Inda) defendeu, nesta quinta-feira (22), uma taxa de 25% para as importações do aço chinês, para proteger a indústria nacional. Durante coletiva de imprensa, o presidente do instituto, Carlos Loureiro, disse que, mesmo que o governo federal adote uma solução como esta, o problema não será resolvido nos próximos quatro meses, diante do alto volume de estoque.
Conforme os dados apresentados, a importação continua pressionando o mercado nacional. Em abril, foi apurada alta de 21% na comparação com o mesmo mês do ano passado, passando de 242,3 mil toneladas para 293,3 mil toneladas importadas de aço plano.
No acumulado do ano, o crescimento das importações é ainda maior, 31,7%, passando de 827,3 mil toneladas importadas de janeiro a abril de 2024 para 1,08 milhão de toneladas no mesmo período deste ano. “O número é muito alto, você percebe que é em cima de um ano que já foi alto, que foi 2024, e que causou, inclusive, o movimento de criar cotas”, lembra Loureiro.
Medidas do governo federal foram insuficientes
A imposição de cotas e o aumento de tarifas por parte do governo federal, em junho do ano passado, já foram medidas criadas para limitar a entrada do aço importado no País. Atualmente, a taxa de importação do aço da China para o Brasil é de 25%, se as cotas de importação forem ultrapassadas. Caso contrário, a taxa padrão de importação, que é de 10,8%, em média, continua a ser aplicada.
As medidas adotadas pelo governo federal, no entanto, são consideradas insuficientes pelo Inda, já que as importações continuaram subindo, mesmo após as regulamentações.
Segundo Loureiro, mesmo que o governo tome uma medida agora, taxando o aço chinês em 25%, uma vez que responde por mais de 76% das importações, o problema se perpetuará, no mínimo, pelos próximos quatro meses, considerando o número de material que ainda tem para entrar no Brasil.
De acordo com o presidente do Inda, só no porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, há 750 mil toneladas em viagem, com data registrada para chegar ao País, ou aguardando para ser descarregado.
“Então, só neste porto você tem 750 mil toneladas, fora o material que está nos depósitos. Com isso, fica claro que mesmo que venha uma solução, não vamos resolver o problema nos próximos quatro, cinco meses. Todo esse material só tem uma saída, vender no mercado interno. Se é importado, não tem como devolver”, afirmou.
Loureiro ressaltou, ainda, que a redução do preço dos produtos praticados pelas usinas nacionais não fará com que elas vendam mais. “Não resolve o problema, porque o material que está para ser descarregado vai ter que ser vendido no Brasil. A opção de baixar preço é só prejuízo para nós distribuidores e para as próprias usinas, que passam a ter suas margens de lucro muito apertadas”, frisou.
Com relação aos estoques dos distribuidores, eles ficaram estáveis em relação a março, mas aumentaram quase 16% em relação ao mesmo mês do ano passado. O volume acumulado é de 1,06 milhão de toneladas e equivale a 3,3 meses de vendas. Nível considerado elevado e que causa preocupação do instituto, uma vez que os preços estão em tendência de queda pela pressão da importação.
Volume de aço importado já é o terceiro do ranking de fornecedores
O volume de aço plano importado pelo Brasil já torna o exterior o terceiro maior fornecedor de aço plano do País. Segundo o presidente do Inda, a CSN, que ocupava a terceira posição, atrás de ArcelorMittal e Usiminas, já foi superada pelas importações. Está à frente apenas da Gerdau, se considerados os cinco fornecedores principais. “Se a gente não tomar cuidado, as importações ainda podem ultrapassar a Usiminas”, alertou.
Tarifas impostas pelos EUA reduzem exportações de aço
Apesar de o Inda considerar que a taxa de 25% imposta pelo presidente Donald Trump ao aço brasileiro não restringiu as exportações do Brasil para os Estados Unidos (EUA), uma vez que o País de Donald Trump continua sendo o maior importador de aço brasileiro, o que se notou foi uma queda de 31% nas vendas em abril em relação a março.
De acordo com os dados do Instituto, enquanto em março o volume de aços planos vendido pelo Brasil para o país norte-americano somou 643,1 mil toneladas, em abril, o volume reduziu para 443,7 mil toneladas, recuo de 31%.
Confirmando as projeções do Inda, apesar da taxação imposta pelo presidente Donald Trump ao aço brasileiro, os EUA continuam sendo o maior comprador. “Conforme previmos, apesar dos 25% de tarifa impostos pelos EUA ao Brasil, os EUA continuam sendo o maior importador de aço do Brasil. Oitenta e dois por cento das nossas exportações continuaram indo para lá”, disse Loureiro.
Depois dos EUA, são pequenas as vendas para a Argentina (6,9%), o Reino Unido (5,1%) e a República Dominicana (4,7%). Outros países respondem por menores volumes.
Vendas de aço caem 4,3% em abril
As vendas de aços planos, em abril, conforme dados do Inda, tiveram queda de 4,3%, quando comparadas a março, atingindo o montante de 317,3 mil toneladas, contra 331,7 mil. Segundo Loureiro, uma queda dentro do esperado, que era de cerca de 4%.
Em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram vendidas 332,1 mil toneladas, as vendas registraram queda de 4,5%. Ainda assim, o mês de abril registrou média de venda de 15,9 mil toneladas por dia, considerado um número bom pelo instituto, e acima da média do ano passado, que foi de 15,1 mil toneladas. Já no acumulado do ano, a alta foi de 0,9%.
Safras & Mercado - RS 23/05/2025
As vendas de aços planos em abril contabilizaram queda de 4,5% sobre o mesmo mês de 2024, atingindo o montante de 317,3 mil toneladas, segundo dados apresentados pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira. Em relação a março, quando foram vendidas 331,7 mil toneladas, houve queda de 4,3%. As vendas diárias em abril chegaram a 15,9 toneladas, acima do volume registrado em março. De janeiro a abril, as vendas de aços planos cresceram 0,9% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando 1,291 milhão de toneladas.
Em abril de 2025, as compras de aços planos registraram queda de 7,4% perante ao mesmo mês de 2024, com volume total de 320,1 mil toneladas contra 345,7 mil toneladas. Frente a março, as compras recuaram 3,2% em relação aos 330,6 mil toneladas de março de 2025. De janeiro a abril, as compras de aços planos cresceram 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a 1,338 milhão de toneladas.
Em número absoluto, o estoque de abril obteve alta de 0,3% em relação ao mês anterior, atingindo o montante de 1.061,3 mil toneladas contra 1.058,6 mil. O giro de estoque fechou em 3,3 meses.
As importações encerraram o mês de abril com queda de 14,7% em relação ao mês anterior, com volume total de 293,3 mil toneladas contra 343,6 mil. Comparando-se ao mesmo mês do ano anterior (242,3 mil ton.), as importações registraram alta de 21,0%. De janeiro a abril, as importações cresceram 31,7%, atingindo o montante de 1,089 milhão de toneladas. Deste volume, 78% são procedentes da China, chegando a 876,9 mil toneladas.
Para o presidente do Inda, Carlos Jorge Loureiro, enquanto o governo brasileiro não impor uma tarifa de importação sobre o aço chinês, as usinas brasileiras vão continuar retraídas, e adiando novos investimentos. “A prática de dumping foi configurada e o governo sabe disso, mas não toma providências para mudar o quadro atual de importações elevadas do aço chinês. É preciso ter uma decisão firme para valorizar a produção nacional”, explicou Loureiro.
O dirigente do Inda disse que no atual cenário o melhor seria impor uma tarifa de 25% sobre o aço chinês, assim como já fazem países como os Estados Unidos e a Índia. “Entre o aço que já está no porto de São Francisco do Sul e o que ainda está a caminho, o volume chega a 1 milhão de aço chinês apenas neste porto. E esse número continua a crescer, ainda mais agora com a queda do dólar, que acaba estimulando os importadores”, concluiu Loureiro.
Em março, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reconheceu preliminarmente o dano causado à indústria nacional por importações de aços laminados a frio da China, mas recomendou que o caso prossiga sem aplicação de direitos antidumping provisórios.
Em nota, o MDIC ressaltou que a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) concluirá a investigação, ouvindo todas as partes e colhendo os elementos necessários para seu julgamento, antes da recomendação ou não de direitos antidumping definitivos”.
PROJEÇÕES
Para maio de 2025, a expectativa da rede associada é de que as compras e vendas tenham uma alta de 3% em relação a abril.
Para 2025, a Ativa ainda vê com preocupação o elevado volume de importação de aço e a possível desaceleração da econômica do país, o que pode impactar os volumes vendidos. A corretora apontou ainda que, no curto prazo, o reforço das atuais medidas protetivas ou a criação de novas medidas antidumping ao aço chinês podem melhorar o ambiente para o setor.
Globo Online - RJ 23/05/2025
Ainda não é possível medir os impactos sobre a indústria brasileira gerados pela decisão do governo americano de impor uma taxa de 25% sobre as compras americanas de aço e alumínio, que entrou em vigor em março. Executivos dos dois setores admitem que o clima é de incerteza e apreensão e informam que buscam, por intermédio do governo brasileiro, conseguir uma flexibilização da medida por parte do governo de Donald Trump.
— Inicialmente, as novas taxas atingem igualmente todos os países e não mudam o quadro geral de competitividade. Mas essa situação não deve durar — diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil, instituição que representa as siderúrgicas nacionais. — Vários países negociam novas taxas em Washington. Aqueles que fizerem acordos mais rápido vão levar vantagem. Se formos lentos, vamos perder espaço.
Os EUA são o principal destino internacional do aço brasileiro e o segundo do alumínio. Em 2024, o Brasil exportou 4,08 milhões de toneladas de aço para os EUA, o que representou 42,6% do volume exportado pelo país, e obteve na operação US$ 2,99 bilhões, 39,2% da receita das exportações siderúrgicas. O Brasil foi o segundo maior exportador, atrás apenas do Canadá.
O principal item exportado para os EUA foi o aço semiacabado, que gerou uma receita de US$ 2,3 bilhões. É um item que não é vendido diretamente ao consumidor, usado como insumo na indústria do aço, que faz a laminação e revende.
— Ao taxar o semiacabado, os EUA tiram competitividade da própria siderurgia americana — diz Mello Lopes.
Os EUA não são autossuficientes em aço semiacabado e demandam uma importação anual de 5,6 milhões de toneladas. Construir usinas para atender essa demanda é um processo lento, que leva entre três e quatro anos.
Na balança comercial do aço, o Brasil importa carvão metalúrgico dos EUA, US$ 1,4 bilhão em 2014, e US$ 3,9 bilhões em máquinas e equipamentos, que contém muito aço embarcado.
— Se levarmos em consideração toda a cadeia produtiva, os EUA são superavitários em relação ao Brasil — afirma.
Hard Quota
Em 2018, esses argumentos foram suficientes para levar o governo americano a adotar uma política de cotas para as vendas de aço brasileiro no país. Na ocasião, durante o primeiro governo Trump, os americanos criaram uma taxa de 25% sobre o aço e o alumínio importados.
O Brasil negociou na época a adoção de uma hard quota, cota rígida que não pode ser ultrapassada, nem pagando tarifa extra de importação. Por outro lado, todo o aço exportado pelo Brasil aos EUA até o limite anual de 3,5 milhões de toneladas de semiacabado e 687 mil toneladas de laminados, passaram a ter tarifa zerada. A solução valeu até março deste ano.
— O pleito da indústria siderúrgica brasileira é a volta desta política de hard quota — diz Mello Lopes.
As negociações tiveram início em março com uma videoconferência do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço (MDIC), Geraldo Alckmin; o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick; e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.
Segundo Tatiana Prazeres, secretária de comércio exterior do MDIC, o primeiro momento é de esclarecer os aspectos da política tarifária brasileira aos americanos e apresentar argumentos, em um processo de negociação que se apresenta como difícil e lento.
— Mostramos que o Brasil não é problema para os EUA. Eles têm superávit comercial conosco — afirma.
Em relação às novas tarifas, a estratégia é mostrar a importância do fornecimento brasileiro para a cadeia produtiva americana.
A indústria brasileira do alumínio também pleiteia a substituição da tarifa de 25% por um sistema de cotas que permita volumes anuais isentos de sobretaxa.
Em 2024, os EUA foram destino de 16,8% das exportações brasileiras de produtos de alumínio, totalizando US$ 267 milhões e 72,4 mil toneladas, mas representou menos de 1% das importações americanas. Os principais itens embarcados foram chapas e folhas de alumínio.
Exportações cresceram
No primeiro trimestre de 2025, as exportações brasileiras para os EUA cresceram 22% em volume em relação ao mesmo período de 2024, totalizando 22,2 mil toneladas. Até março, vigorava uma tarifa de 10% sobre as exportações do setor aos EUA.
Segundo Janaina Donas, presidente executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), os EUA não são autossuficientes na produção de alumínio primário, resultado da transformação direta da bauxita. Ela calcula que o país precisaria de cinco a oito anos para estabelecer uma produção com escala suficiente para atender sua demanda.
A principal preocupação do setor é que as novas tarifas americanas gerem desvio de comércio, ou seja, que países redirecionem suas exportações que anteriormente atendiam aos Estados Unidos para mercados alternativos, menos protegidos, como o Brasil, e para isso usem práticas anticompetitivas, como o dumping. Prazeres informa que o MDIC está preocupado com o risco de desvio de comércio e faz um monitoramento “com lupa” de todos os produtos e agirá, caso necessário. Os EUA são o principal destino internacional do aço brasileiro e o segundo do alumínio.
Portal Fator Brasil - RJ 23/05/2025
Companhia também lidera o ranking na categoria “mineração, siderurgia e metalurgia” e destaca em todos os pilares de sustentabilidade.
A Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço, é a única produtora de aço entre as 100 empresas mais bem posicionadas na 11ª edição do Ranking Merco Responsabilidade ESG, ocupando a 40ª colocação geral. A companhia também lidera o ranking, que destaca as organizações com as melhores práticas ambientais, sociais e de governança, na categoria “mineração, siderurgia e metalurgia”.
Além disso, a Gerdau esteve entre as 50 empresas que compõem os rankings específicos de cada pilar de sustentabilidade, ocupando a 27ª posição em ambiental, a 39ª em social e a 44ª em governança.
De acordo com Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, o reconhecimento é o resultado do compromisso da empresa em ser parte das soluções aos desafios da sociedade. “Esses reconhecimentos reforçam o compromisso da Gerdau com a geração de valor para a sociedade. O ranking indica que estamos no caminho certo para construir um futuro ainda mais sustentável e impactar positivamente as regiões em que estamos presentes. Divido esse reconhecimento com os mais de 30 mil colaboradores e colaboradoras da Gerdau, que atuam diariamente na construção do futuro”.
A companhia transforma, por ano, mais de dez milhões de toneladas de sucata metálica em novos produtos de aço. Cerca de 70% do aço produzido nas usinas da companhia tem como matéria-prima a sucata, e a cada tonelada produzida com ela equivale a deixar de emitir 1,5 toneladas de gases de efeito estufa.
Em função de uma matriz de produção sustentável, a Gerdau possui, atualmente, uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa (CO2e), de 0,85 t de CO2e por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,91 t de CO2e por tonelada de aço (worldsteel). Para 2031, a meta da organização é diminuir as emissões de carbono para 0,82 t de CO2e por tonelada de aço.
Além do impacto ambiental, a reciclagem de sucata afeta positivamente mais de 1 milhão de pessoas no Brasil, sendo uma importante fonte de renda e geração de empregos. Este setor não apenas contribui para a redução de resíduos e a preservação dos recursos naturais, mas também desempenha um papel crucial no desenvolvimento econômico e social do país, proporcionando oportunidades de trabalho e melhorando a qualidade de vida de muitas famílias.
A Gerdau ainda contribui com a comunidade em que a companhia está inserida por meio de investimentos em projetos sociais das áreas de educação, habitação e reciclagem. Entre os programas estão o ‘Gerdau Transforma’, de capacitação e mentoria para o empreendedorismo, e o ‘Reforma que Transforma’, iniciativa que tem como objetivo a transformação do panorama da habitação de baixa renda no Brasil.
A pesquisa de campo do Ranking Merco Responsabilidade ESG no Brasil ocorre anualmente entre julho e dezembro. Assim como anteriormente, apresenta as 100 melhores empresas em um cenário geral de responsabilidade ESG, além das empresas que se destacam nas práticas de cada um de seus pilares, resultando em mais três rankings de acordo com as siglas (em inglês) Environmental (E), Social (S) e Governance (G). A metodologia de análise engloba 14 diferentes fontes de informação, consolidadas em 3.874 entrevistas.
Gerdau — Com 124 anos de história, a Gerdau é a maior empresa brasileira produtora de aço e uma das principais fornecedoras de aços longos nas Américas e de aços especiais no mundo. No Brasil, também produz aços planos, além de minério de ferro para consumo próprio. Com o propósito de empoderar pessoas que constroem o futuro, a companhia está presente em vários países e conta com mais de 30 mil colaboradores em todas as suas operações. Maior recicladora da América Latina, a Gerdau tem na sucata uma importante matéria-prima: cerca de 70% do aço que produz é feito a partir desse material. Todo ano, 10 milhões de toneladas de sucata são transformadas em diversos produtos de aço. A companhia também é a maior produtora de carvão vegetal do mundo, com mais de 250 mil hectares de base florestal no estado de Minas Gerais. Como resultado de sua matriz produtiva sustentável, a Gerdau possui, atualmente, uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa (CO 2), de 0,85 t de CO2e por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,91 t de CO 2 por tonelada de aço (worldsteel). Para 2031, a meta da Gerdau é diminuir as emissões de carbono para 0,82 t de CO2 por tonelada de aço. As ações da Gerdau estão listadas nas bolsas de valores de São Paulo (B3) e Nova Iorque (NYSE).
Valor - SP 23/05/2025
Tarifa de 25% gera apreensão nos dois setores que têm nos EUA mercado importante para seus produtos
Janaina Donas: americanos não são autossuficientes em alumínio primário — Foto: Divulgação
Ainda não é possível medir os impactos sobre a indústria brasileira gerados pela decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma taxa de 25% sobre o aço e o alumínio importados. Executivos dos dois setores admitem que o clima é de incerteza e apreensão e informam que buscam, por intermédio do governo brasileiro, conseguir uma flexibilização da medida.
“Inicialmente, as novas taxas atingem igualmente todos os países e não mudam o quadro geral de competitividade. Mas essa situação não deve durar”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo da Aço Brasil, instituição que representa as siderúrgicas nacionais. “Vários países negociam novas taxas em Washington. Aqueles que fizerem acordos mais rápido vão levar vantagem. Se formos lentos, vamos perder espaço.”
Reino Unido e EUA já anunciaram acordo para a redução de tarifas sobre o aço, mas os detalhes ainda não são públicos.
Os Estados Unidos são o principal destino internacional do aço brasileiro e o segundo do alumínio. Em 2024 o Brasil exportou 4,08 milhões de toneladas de aço para lá, o que representou 42,6% do volume exportado pelo país, e obteve na operação US$ 2,99 bilhões, 39,2% da receita das exportações siderúrgicas. O Brasil foi o segundo maior exportador para os EUA, atrás apenas do Canadá.
O principal item exportado para foi o aço semiacabado, que gerou uma receita de US$ 2,3 bilhões. É um item que não é vendido diretamente ao consumidor; é usado como insumo na indústria do aço, que faz a laminação e revende. “Ao taxar o semiacabado, os Estados Unidos tiram competitividade da própria siderurgia americana”, diz Lopes.
Os EUA não são autossuficientes em aço semiacabado e demandam uma importação anual de 5,6 milhões de toneladas. Construir usinas para atender essa demanda é um processo lento, que leva entre três e quatro anos.
Na balança comercial do aço, o Brasil importa carvão metalúrgico dos Estados Unidos (US$ 1,4 bilhão em 2014), e US$ 3,9 bilhões em máquinas e equipamentos, que contêm muito aço embarcado. “Se levarmos em consideração toda a cadeia produtiva, os Estados Unidos são superavitários em relação ao Brasil”, destaca o executivo da Aço Brasil.
Em 2018 - quando o primeiro governo Trump criou uma taxa de 25% sobre aço e alumínio importados -, esses argumentos foram suficientes para levar o governo americano a adotar uma política de cotas para as compras de aço brasileiro. Naquele ano foi negociada uma cota rígida (“hard quota”), que não poderia ser ultrapassada, nem pagando tarifa extra de importação. Por outro lado, todo o aço exportado para os EUA, até o limite anual de 3,5 milhões de toneladas de semiacabado e 687 mil toneladas de laminados, tinha tarifa zerada. A solução valeu até março deste ano.
“O pleito da indústria siderúrgica brasileira é a volta desta política de hard quota”, diz Lopes. As negociações tiveram início em março com uma videoconferência do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.
Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do ministério, considera que o primeiro momento é de esclarecer os aspectos da política tarifária brasileira aos americanos e apresentar argumentos, em um processo de negociação que se apresenta como difícil e lento. “Mostramos que o Brasil não é problema para os EUA. Eles têm superávit comercial conosco”, afirma. “Em oito dos dez principais itens que importamos dos EUA, a tarifa de importação é zero”, diz.
Em relação às novas tarifas sobre aço e alumínio, a estratégia é mostrar a importância do fornecimento brasileiro para a cadeia produtiva americana, como apresentado por Lopes. “Estamos trabalhando em sintonia com a iniciativa privada, queremos uma relação de ganha-ganha com os EUA”, diz Prazeres.
A indústria brasileira do alumínio também pleiteia a substituição da tarifa de 25% por um sistema de cotas que permita volumes anuais isentos de sobretaxa. “É nossa principal proposta”, afirma Janaina Donas, presidente executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
Em 2024, os Estados Unidos foram destino de 16,8% das exportações brasileiras de produtos de alumínio, totalizando US$ 267 milhões e 72,4 mil toneladas, mas representou menos de 1% das importações americanas. Os principais itens embarcados foram chapas e folhas de alumínio.
No primeiro trimestre de 2025, as exportações brasileiras para os EUA cresceram 22% em volume em relação ao mesmo período de 2024, para 22,2 mil toneladas. “Esse avanço refletiu um movimento de antecipação de embarques, diante da expectativa da entrada em vigor da nova tarifa”, diz a executiva. Até março, vigorava uma tarifa de 10% sobre as exportações do setor aos EUA.
De acordo com Donas, os americanos não são autossuficientes na produção de alumínio primário - resultado da transformação direta da bauxita. Ela calcula que o país precisaria de cinco a oito anos para estabelecer uma produção com escala suficiente para atender sua demanda interna.
A principal preocupação do setor no Brasil é que as novas tarifas americanas gerem desvio de comércio, ou seja, que países redirecionem suas exportações, que anteriormente atendiam aos Estados Unidos, para mercados alternativos e menos protegidos, como o Brasil, e para isso usem práticas anticompetitivas, como o dumping. “O Brasil precisa fortalecer seus instrumentos de defesa comercial”, diz Donas.
Prazeres informa que o governo brasileiro está preocupado com o risco de desvio de comércio e faz um monitoramento “com lupa” de todos os produtos e agirá, caso necessário.
Portal Fator Brasil - RJ 23/05/2025
E se consolida como o segundo maior produtor do país. Produção representa crescimento de 21,9% na comparação com o mês de abril do ano passado.
O Rio de Janeiro produziu, no mês de abril, 725 mil toneladas de aço bruto, registrando um crescimento de 21,9% em relação à produção de abril do ano passado. O estado foi responsável por 27,6% da produção nacional de aço no mês. De janeiro a abril, o Rio de Janeiro acumula três milhões de toneladas, o que significa uma alta de 7,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Esses dados são do Instituto Aço Brasil, que representa as empresas brasileiras produtoras de aço.
—O setor siderúrgico é um pilar importante para o desenvolvimento do nosso estado. Gera um volume expressivo de empregos e renda, e impulsiona outros segmentos da economia. O crescimento da produção fluminense de aço revela a confiança do mercado no ambiente de negócios que estabelecemos, com estabilidade, diálogo e compromisso com quem investe e produz no Rio de Janeiro — afirmou o governador Cláudio Castro(PL).
Em 2024, o Rio de Janeiro produziu 8,8 milhões de toneladas de aço, registrando um crescimento de 2,4% em relação a 2023. Com isso, o estado se consolidou como o segundo maior produtor do país, respondendo por 26,2% da produção nacional — atrás apenas de Minas Gerais.
—O Rio de Janeiro tem apresentado uma produção robusta de aço, desde o início do ano, com resultados percentuais de crescimento, nas duas comparações (mensal e anual), superiores aos de Minas Gerais, principal produtor nacional de aço — observou a secretária interina de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, Fernanda Curdi, acrescentando que a produção de aço no Rio de Janeiro fortalece a balança comercial brasileira, reduzindo a dependência de importações e, em alguns casos, possibilitando a exportação de produtos siderúrgicos com alto valor agregado.
Segundo o Instituto Aço Brasil, a produção nacional de aço bruto alcançou 2,6 milhões de toneladas em abril, uma redução de 3,1% frente ao apurado no mesmo mês de 2024. E o volume de 11,0 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a abril de 2025, o que representa uma redução de 0,3% frente ao mesmo período do ano anterior.
ICIA — O Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) do mês de maio de 2025 — O indicador caiu 1,4 pontos frente ao mês anterior, e atingiu 30,2 pontos. — Um movimento contínuo de queda na confiança pela sétima vez seguida da confiança dos CEOs da indústria do aço. Um movimento contínuo de queda de confiança faz o índice aproximar-se cada vez mais dos índices vigentes do período da pandemia do covid-19.
Valor - SP 23/05/2025
Marcadas por sigilo extremo, as conversas com Washington avançam de forma lenta, para insatisfação dos setores atingidos
Trump anuncia tarifas no “Dia da Libertação”; EUA querem que Brasil derrube barreiras tarifárias e não tarifárias — Foto: AP/Mark Schiefelbein
Desde o anúncio em março deste ano pelo governo de Donald Trump da imposição de tarifa de 25% sobre todas as importações americanas de aço e alumínio - o Brasil é seu segundo maior fornecedor -, os dois países começaram a discutir a relação de 200 anos.
Marcadas por sigilo extremo de ambos os lados, as conversas desdobram-se de forma lenta e gradual, para a insatisfação dos setores mais atingidos pelo “tarifaço” americano. Ninguém está autorizado a mostrar as cartas antes da hora. A boa notícia, segundo informaram fontes do governo ao Valor, é que o Brasil está no primeiro grupo de duas dezenas de nações com as quais os Estados Unidos resolveram negociar primeiro.
Washington quer derrubar barreiras tarifárias - etanol é uma obsessão, assim como carne de porco - e não tarifárias. Está tudo mencionado em uma publicação da Secretaria de Comércio americano de quase 400 páginas que dedica a um capítulo inteiro ao Brasil. Este, por sua vez, está focado na eliminação das tarifas de 10%, que vale para todos os produtos, e das setoriais, principalmente a do aço (que é a que mais afeta da balança comercial brasileira), sem se esquecer de autopeças e microchips.
“Trata-se de um processo em desenvolvimento. Mas vale lembrar que o fato de o Brasil estar disposto a negociar e de estar neste primeiro grupo não quer dizer que vá chegar a um acordo, ou que será rápido. O governo brasileiro está de boa-fé, mas está vendo os interesses brasileiros”, afirmou um interlocutor.
A primeira reunião de alto nível entre o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, ainda em março, desencadeou um punhado de reuniões técnicas, que incluem o Ministério das Relações Exteriores também. Já foram seis ao todo.
Os negociadores ouvidos pelo Valor não perderam as esperanças, mas admitem que “um entendimento não é evidente”. A briga vai muito além da complexidade de percentuais tarifários ou de indecifráveis nomenclaturas de produtos. Isso significa que ajuda, mas não resolve, ter comprado muito mais mercadorias e serviços dos Estados Unidos do que eles do Brasil nos últimos anos. Washington está decidida a esticar a corda até o limite.
Foi assim com o Chile, por exemplo. Interlocutores da equipe do presidente chileno, Gabriel Boric, contaram que foram cobrados por menos exposição à China e regras domésticas que fossem mais “amigáveis” às empresas americanas. Pequim tem ocupado espaços deixados pelos americanos ao longo dos últimos anos e isso deixa Trump e sua equipe doentes de raiva. O pedido sobre a China se repete.
“Tem tarifas. Eles querem acesso preferencial a mercado, em alguns casos, mas tem regras também. Então, esse ambiente regulatório vai estar presente em todas as discussões que terão com países que vierem a negociar com eles”, afirmou outra fonte do governo, pouco depois da mais recente missão técnica enviada à capital americana no início de maio. “Sobre esperança de avanço, vamos continuar tentando. Não é muito evidente. Seguimos empenhados”, disse um interlocutor que participa das negociações.
A ordem dentro do governo brasileiro é manter a cautela e evitar arroubos e a palavra “retaliação”
A maior parte dos países com os quais os Estados Unidos negociam neste momento tem peso mais significativo do que o Brasil sobre o trilionário déficit comercial americano com o mundo. Este é justamente o argumento brasileiro levado às reuniões técnicas. É tecla em que têm batido repetidas vezes o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva - como fez em sua última visita de Estado à China -, seu vice e seus ministros. A balança favorece, e muito, os Estados Unidos, que têm no Brasil um dos poucos superávits comerciais. O sexto maior, na verdade.
Contando bens e serviços, o déficit brasileiro com os EUA está em torno de R$ 27 bilhões ao ano. Dos dez principais produtos que o Brasil importa dos EUA, oito têm tarifa zero. A tarifa efetiva para eles é, na verdade, de 2,7%. Este, por sinal, é outro dado em que Alckmin tem insistido. Talvez essas tenham sido as razões para que o país fosse poupado das alíquotas mais leoninas na tabela do tarifaço anunciado por Trump no que chamou de “Dia da Libertação”.
A ordem dentro do governo brasileiro continua sendo a de manter a cautela e evitar arroubos e a palavra “retaliação”. Assessores do presidente costumam usar “reciprocidade”. Esta é uma possibilidade. E as formas de fazê-lo estão previstas no Projeto de Lei 2008/25, aprovado por unanimidade no Congresso em abril. Mas nem isso está na ordem do dia neste momento. O que se repete é que é preciso “negociar até a exaustão”.
Enquanto isso, o Brasil observa o que está acontecendo nas mesas de negociação com outros países, e como as nações tem respondido à truculência da administração Trump 2.0, o que um interlocutor no Palácio do Planalto chamou de lógica da “incerteza, medo e espetáculo”.
Brasília tem conversado com seus parceiros em Genebra, onde está a sede da Organização Mundial de Comércio (OMC) sobre esta pauta e sobre a possibilidade de recorrer à entidade no futuro, se não encontrar soluções nas negociações.
A coreografia se repete. É assim que Washington tenta extrair acordos, além de usar as negociações para colocar uns contra os outros. O anúncio de um entendimento com o Reino Unido, o primeiro desde o início da política do tarifaço, é um exemplo. Um de seus objetivos certamente é o de bater de frente com a União Europeia (UE), com quem Trump vive às turras.
“Vejo recado à UE. O acordo é pior do que Trump faz parecer. Não baixou a tarifa geral de 10%. Mas beneficiou o aço britânico e carnes - o que é ruim para o Brasil -, além de carros. Vamos ter de avaliar risco de causar prejuízos para outros países”, reconhece uma fonte do governo.
Assim que Washington e Londres avisaram ter chegado a uma convergência, o embaixador do Reino Unido nos EUA, Peter Mandelson, disse que aquilo era “só o começo”. “Não é o fim”, insistiu. Afinal, experiente negociador, ele, que é ex-comissário de Comércio da UE, sabe que não se trata de entendimento “completo e amplo”, como alardeou Trump. Ainda faltam muito detalhes sobre o teor do acordo. Mas, à primeira vista, parece beneficiar mais os EUA do que o Reino Unido. O gesto político, porém, foi feito e importa.
“Apesar de Washington dizer que esse acordo não é parâmetro, pelo fato de o Reino Unido ter relações especiais com os EUA, e porque as discussões já estavam em curso desde o primeiro mandado do Trump, a verdade é que estão todos de olho ali”, afirmou um fonte de acompanha as conversas desde o início.
Suspeita-se que Trump vá manter uma tarifa mínima aplicada ao resto mundo, ainda que negocie novos acordos. “Trata-se de uma questão fiscal também”, lembra uma fonte no Palácio. Resta saber se será aplicada no mesmo patamar a todos.
O Estado de S.Paulo - SP 23/05/2025
O Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) provavelmente precisará subir os juros neste ano para combater o aumento da inflação provocada sobretudo pela alta das tarifas a importados adotada pelo governo dos Estados Unidos, aponta Barry Eichengreen, professor de Economia da University of California, Berkeley, em entrevista exclusiva ao Estadão.
“O Fed vai querer reafirmar sua independência e isso o levará a subir os juros como resposta ao aumento da inflação. Trump vai pressionar para reduzir as taxas”, disse. “É mais provável que o Fed aumente os juros antes de reduzi-los tanto para convencer o público e os investidores de que ele está sério no combate à inflação, quanto para mostrar que não vai ceder à pressão política. O aumento de juros pode certamente acontecer neste ano, porque a inflação está começando a acelerar.”
Para Eichengreen, as chances de os EUA ingressarem em uma recessão até o final do ano são “provavelmente superiores a 50%”, especialmente porque continua a guerra comercial entre os governos de Washington e Pequim, pois apenas ocorreu uma pausa de 90 dias na escalada das tarifas sobre importados impostas entre si.
“A China continua adotando uma tarifa de 10% sobre produtos dos EUA, que por sua vez continuam aplicando tarifas entre 30% e 45% sobre importações da China. Tarifas de 30% a 45% são menos disruptivas do que 145%, mas ainda representam um aumento dramático em relação ao que o presidente Donald Trump herdou em janeiro de 2025 e serão prejudiciais para a economia dos EUA.”
Acompanhe os principais trechos da entrevista.
Com a pausa de 90 dias adotada pelos governos dos EUA e da China em relação à escalada de tarifas de importados impostas entre si, qual é o cenário mais provável para o desempenho da economia americana em 2025?
Temo que as chances de uma recessão nos EUA ocorrer até o final do ano sejam provavelmente superiores a 50%. Eu não caracterizaria exatamente o que aconteceu entre os EUA e a China como uma pausa. A China continua adotando uma tarifa de 10% sobre produtos dos EUA, que por sua vez continuam aplicando tarifas entre 30% e 45% sobre as importações da China.
Tarifas de 30% a 45% são menos disruptivas do que 145%, mas ainda representam um aumento dramático em relação ao que o presidente Donald Trump herdou em janeiro de 2025 e serão prejudiciais para a economia dos EUA. Planos de Investimentos estão sendo adiados porque empresários não sabem o que acontecerá após 90 dias. Os consumidores começarão a sentir os efeitos da interrupção no comércio e das tarifas de importação no supermercado e em outros lugares, o que não será bom para a confiança deles.
Qual é a expectativa do senhor para o crescimento dos EUA neste ano?
Com a economia crescendo na primeira metade do ano, mas ingressando em recessão na segunda metade, 1,5% de expansão do PIB em 2025 seria um resultado muito bom. Mas poderá ser menor.
Como o Federal Reserve conduzirá a política monetária no decorrer do ano?
A situação atual é mais ou menos um cenário de pesadelo para o Fed, porque o aumento da inflação normalmente levaria ao aumento das taxas de juros, mas o enfraquecimento da economia e o medo de recessão levariam à redução das taxas. Além disso, haverá barulho e pressão política, porque Trump não demonstrou nenhuma relutância em criticar o Fed.
O Fed vai querer reafirmar sua independência e isso o levará a subir os juros como resposta ao aumento da inflação. Trump vai pressionar para reduzir as taxas.
Jerome Powell, presidente do Fed, indicou que estamos em um ambiente de juros e inflação mais altos agora. A prioridade do Fed será defender sua credibilidade anti-inflacionária, o que provavelmente significa nenhum corte de juros até que a economia comece a mostrar sinais visíveis de enfraquecimento.
Quantos cortes de juros o Fed deverá realizar neste ano?
Dependerá se e quando a economia começar a enfraquecer e se colocará ou não pressão para baixo na inflação. Se a economia estiver enfraquecendo e a inflação estiver subindo por causa das tarifas e outras disrupções, o Fed será relutante em cortar os juros. Neste momento, com a inflação subindo nos EUA, o Fed aumentará os juros antes de reduzi-los. A questão é saber quantas vezes o Fed vai aumentá-los e não quantas vezes vai cortá-los.
É mais provável que o Fed aumente os juros antes de reduzi-los tanto para convencer o público e os investidores de que ele está sério no combate à inflação, quanto para mostrar que não vai ceder à pressão política. O aumento de juros pode certamente acontecer neste ano, porque a inflação está começando a acelerar.
Quantas altas de juros o Fed poderá adotar neste ciclo de aperto monetário?
O Fed prefere agir em pequenos passos, especialmente agora, quando há forças econômicas cruzadas, com a inflação pressionando por aperto e a economia enfraquecida sugerindo corte de juros. Penso que o Fed pode adotar um aumento de 0,25 ponto porcentual. Mas a magnitude total das altas os dirigentes do Federal Reserve não sabem no momento, pois estão esperando os mesmos dados econômicos que nós estamos aguardando.
O núcleo do CPI atingiu 2,8% em abril, em termos anuais. Quanto a inflação deve subir neste ano para justificar a alta de juros pelo Fed?
Tudo o que seria necessário é um pequeno aumento da inflação, causado por interrupções nas importações e tarifas, para levar o núcleo do PCE a superar 3%. Isto já seria suficiente para o Fed dizer que a situação está saindo do controle novamente e começar a subir os juros.
Quais fatores levariam a economia dos EUA a ter uma inflação mais alta e crescimento menor no segundo semestre?
Primeiro, as interrupções nas cadeias de suprimentos relacionadas ao comércio. Um exemplo seria o setor imobiliário dos EUA, que depende de madeira importada do Canadá e de mão de obra do México. Os construtores de casas estão reclamando de escassez de madeira e aumento nos custos de eletrodomésticos.
Fabricantes de automóveis enfrentam problemas com peças e componentes importados, pois estão mais caros ou indisponíveis. Há também a incerteza que reduz os investimentos e a deterioração da confiança do consumidor.
Qual será a tendência da força internacional do dólar até o final do ano?
O dólar perdeu terreno em relação a várias moedas. O crescimento europeu deve acelerar em relação ao que se esperava no início do ano, por conta de mais gastos com defesa e infraestrutura. O crescimento dos EUA, por outro lado, deve desacelerar. A força do dólar diminuiu porque as pessoas perceberam esses fatos. Se houver mais caos político vindo do governo Trump, e se a redução de tarifas for revertida após 90 dias, o que eu não descartaria, o dólar vai enfraquecer ainda mais.
Em relação às guerras comerciais, o que será mais provável ocorrer depois da suspensão temporária da escalada de tarifas por 90 dias?
O mais provável é uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações realizadas pelos EUA, um aumento dramático em relação aos 1,5% ou 2% de tarifa média antes de Donald Trump. Também podem ocorrer tarifas adicionais sobre importações de países que Trump não gosta, como a China, e sobre commodities específicas que ele considera economicamente ou geoestrategicamente importantes.
Acredito que vão continuar as tarifas extras sobre aço e automóveis, bem como as tarifas extras sobre a China. Todos os outros países, começando pelo Reino Unido, mas com sorte incluindo também o Brasil, poderão negociar tarifas de 10%. Isso seria a continuação da guerra comercial e seria ruim para os Estados Unidos e para outros países.
A desaceleração da economia dos EUA no segundo semestre, provocada em grande medida pela continuidade das guerras comerciais, vai também neste ano reduzir o ritmo da economia mundial, especialmente à da zona do euro e China?
Acredito que sim. Foi isso que o FMI previu no seu Panorama Econômico Mundial do mês passado.
O FMI previu que o crescimento neste ano da zona do euro será de 0,8% e o da China será de 4%. Qual é a avaliação do senhor sobre tais projeções?
Penso que seria um resultado muito positivo se conseguirmos isso. Um crescimento de 4% para a China é menos do que a meta de expansão ao redor de 5% do governo chinês para 2025. O FMI está basicamente prevendo uma desaceleração muito leve na China.
Este quadro de desaceleração da economia da China poderia levar o governo de Pequim a adotar uma postura mais dura nas negociações com os EUA a ponto de intensificar as guerras comerciais?
As negociações dos EUA com a China mostraram que os outros países só conseguem chegar a algum tipo de acordo com os EUA se demonstrarem força.
Se os EUA mantiverem tarifas sobre produtos chineses, a China também manterá tarifas sobre produtos americanos e ela continuará negociando acordos comerciais com países da Europa, Ásia e da América Latina. Há uma preocupação em outras partes do mundo de que, se a China não conseguir exportar para os EUA como antes, ela desviará essas exportações para outros mercados e inundará a Europa com veículos elétricos, por exemplo. Acordos comerciais terão que tentar preservar os laços da China com outros países, mas também tranquilizá-los de que não vai sobrecarregar seus mercados com exportações.
Se em 90 dias as tensões comerciais aumentarem, o mais provável será a elevação da volatilidade de ativos nos mercados financeiros internacionais?
Se a volatilidade da política comercial continuar, a volatilidade dos mercados vai retornar.
Monitor Digital - RJ 23/05/2025
O comércio exterior da China manteve um crescimento estável apesar de enfrentar altas barreiras tarifárias, demonstrando que a China está totalmente equipada, capaz e confiante em resistir a vários riscos e desafios, disse uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quarta-feira.
A porta-voz Mao Ning fez essas observações em uma coletiva de imprensa regular, ao comentar o impacto de fatores externos, como tarifas, na economia chinesa, após um recente relatório da ONU indicar que o crescimento econômico global deverá desacelerar para 2,4% em 2025 devido ao aumento das tensões comerciais e à incerteza política.
A mídia internacional descreveu o desempenho econômico da China como “superando as expectativas” e “resiliente”, afirmou ela, citando números do comércio nos primeiros quatro meses deste ano.
Nos primeiros quatro meses, o valor total das importações e exportações de bens aumentou 2,4% ano a ano, enquanto as exportações cresceram 7,5%, demonstrando forte competitividade internacional, disse ela.
Enquanto isso, a China continua a expandir sua abertura, proporcionando maior espaço e expectativas mais estáveis para empresas estrangeiras, acrescentou.
“Tudo isso demonstra que a China está totalmente equipada, capaz e confiante em resistir a vários riscos e desafios”, disse Mao.
Diário do Comércio - MG 23/05/2025
A procura de crédito por parte das empresas cresceu 0,9% em março de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024. Apesar da alta, o número é menor que o de meses anteriores, o que indica precaução das companhias em um cenário de juros altos.
O dado faz parte do Indicador de Demanda das Empresas por Crédito, da Serasa Experian, e foi obtido com exclusividade pela Agência Brasil.
O resultado de março é a quarta expansão seguida na procura por crédito na comparação com o mesmo período do ano anterior. No acumulado de 12 meses até março, a procura por crédito cresceu 4,2%. Em janeiro, o resultado era expansão de 2,9% e, em fevereiro, 3,9%.
De acordo com a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, a desaceleração em março tem relação direta com o patamar alto de juros no País. “O ritmo mais moderado na demanda por crédito em março reflete um cenário de cautela por parte das empresas diante desafios como o custo elevado do crédito e as incertezas econômicas provocadas pelo ambiente de juros elevado”, afirma.
Ela ressalta que o fato de uma empresa buscar crédito, ou seja, contrair dívidas, pode ser uma alavanca poderosa para investimento, pelo fato de que pode viabilizar projetos e também expansão de operações.
“O crédito acaba permitindo que esses investimentos aconteçam de forma antecipada e contribua positivamente para acelerar o crescimento das empresas”, aponta.
Juros
Desde setembro do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom)do Banco Central (BC) tem elevado a Selic, taxa básica de juros da economia. De lá até maio, os juros passaram de 10,5% ao ano para 14,75% ao ano.
Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.
A justificativa do Copom para aumentar a Selic ao longo dos últimos meses é o combate à inflação. De acordo com o BC, o efeito da Selic na inflação leva de seis a nove meses para se tornar significativo.
Oscilação
A economista da Serasa Experian avalia que a oscilação dos últimos meses, com momentos de baixa na procura e de alta, mesmo com juros altos, envolve bastante incerteza econômica em relação ao cenário prospectivo (busca por recursos), ao tamanho da desaceleração da economia, a como a taxa de juros pode impactar o consumo do brasileiro por bens e serviços.
“Existem muitas incertezas no cenário econômico que acabam justificando essa volatilidade de uma demanda às vezes um pouco mais forte, às vezes um pouco mais fraca e a demanda não necessariamente sofre uma contração porque muitas empresas, especialmente as micro e pequenas, acabam buscando o crédito como apoio para enfrentar esses momentos, afirma.”
Porte e setores
O indicador da Serasa Experian revela que, em março ante o mesmo período do ano passado, o crescimento de 0,9% na procura por crédito empresarial foi empurrado pelos micro e pequenos empreendimentos (alta de 1,1%). Companhias de médio e grande porte registraram queda de 4,8% e 4,7%, respectivamente.
A pesquisa mostra que a procura por empréstimos por parte de empresas do setor de serviços apresentou crescimento de 3,3% em março, seguido pela indústria (2,9%). Já o comercio recuou 2,5% na busca por crédito.
O Estado de S.Paulo - SP 23/05/2025
O anúncio contou com a presença dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, em contraste com a divulgação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, em meados de abril, que contou apenas com integrantes do segundo e terceiro escalão do governo.
“Foi feita análise muito criteriosa. Muita gente do mercado previa necessidade (de contenção de gastos) menor do que essa, mas nós fizemos questão de ser muito transparentes sobre a execução, para que houvesse também por parte do Congresso e Judiciário (disposição) para tocar essa agenda à frente”, afirmou Haddad em coletiva de imprensa.
“Levamos tudo ao presidente (Lula), que determinou que fosse feito o necessário para fortalecer o arcabouço fiscal. Houve consenso do que fazer entre nós e os ministros palacianos. Todo mundo compreendeu a necessidade. Desejamos que melhore, mas lutaremos o quanto for necessário, porque entendemos que é o melhor que o Brasil pode ter", disse o ministro.
Despesas
A previsão de gastos com benefícios previdenciários em 2025 subiu de R$ 1,015 trilhão, previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA), para R$ 1.032 trilhão. A projeção para os pagamentos de pessoal e encargos sociais caiu em R$ 100 milhões, para R$ 411,6 bilhões.
Os valores estimados para o pagamento de precatórios e sentenças judiciais aumentaram em R$ 1,3 bilhão, chegando a R$ 48,5 bilhões.
Haddad pontuou que a despesa com Previdência é ainda um desafio para o Brasil, além dos gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda –, que tem alto índice de judicialização. O tema, segundo ele, está no radar da equipe econômica.
Em relação ao BPC, o ministro afirmou que o assunto está sendo tratado pelo ministro do Desenvolvimento Social (MDS), Wellington Dias. “O programa tem alto índice de judicialização. Então não é uma coisa que está na competência exclusiva do Poder Executivo”, disse ele.
Receitas
Pelo lado da arrecadação, a estimativa para as receitas com dividendos de estatais teve elevação de R$ 10 bilhões, para R$ 43,4 bilhões. Esses recursos devem vir principalmente do BNDES e da Caixa.
Mas houve um corte de R$ 81,5 bilhões nas projeções de arrecadação com uma série de medidas que frustraram a expectativa da equipe econômica.
As receitas previstas com concessões tiveram queda de R$ 8,8 bilhões para R$ 6,6 bilhões.
Com royalties, houve queda de R$ 9,4 bilhões, para R$ 122,3 bilhões, em função da queda do preço do petróleo no mercado internacional.
O governo zerou a projeção de arrecadação com o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) e com outorga de ferrovias. “Destravamos o Carf. Já tivemos mais de R$ 1 trilhão julgado, número impactante, sem precedente, mas esse número não se reverteu em arrecadação que a gente esperava”, afirmou o secretário executivo da Fazenda, Dario Durigan.
Além disso, o governo também reduziu de R$ 31 bilhões para R$ 5 bilhões as estimativas com transações tributárias, e zerou arrecadação com Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), prevista em R$ 7,5 bilhões, e controle de benefícios tributários, estimado em R$ 20 bi.
A venda de direitos da União sobre o petróleo de áreas do pré-sal ainda não foi incorporada à previsão de receitas, segundo a equipe econômica. A expectativa é de uma arrecadação de R$ 15 bilhões, considerada conservadora. A receita não foi incorporada porque depende de aprovação legal, com a apresentação de um projeto de lei, o que ainda não foi feito.
Haddad afirmou que o anúncio do contingenciamento de R$ 20,7 bilhões, motivado pela frustração de receitas, deve-se a circunstâncias ocorridas após o envio do Orçamento ao Congresso.
Ele citou, por exemplo, a não compensação integral da desoneração da folha dos 17 setores, aprovada pelo Congresso; a greve de servidores da Receita Federal, que, segundo Haddad, afeta o desempenho da arrecadação e traz consequências que estão sendo avaliadas; e a taxa de juros prevista para o ano acima do patamar estabelecido pelo Orçamento.
“São questões que surgiram depois da entrega do Orçamento e precisam ser consideradas na sua execução”, disse. “Estamos tomando essa medida (de contenção) agora que ao longo do ano vai ser complementada por outra com objetivo de nos fixarmos naquilo que nos comprometemos para o bem das contas públicas”, disse.
Sem crédito de R$ 12 bi para IPCA, bloqueio seria maior, diz Tebet
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse feira que a abertura de crédito extraordinário de R$ 12,4 bilhões limitou o bloqueio de despesas no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do segundo bimestre, de R$ 10,6 bilhões.
“Isso é para despesas obrigatórias, e é por isso, entre outras coisas, que o bloqueio é de R$ 10 bilhões, porque seria maior”, disse Tebet, na entrevista coletiva para comentar o documento. “E tem outras medidas que impediram um bloqueio maior.”
A abertura do crédito extraordinário se deve à diferença entre o IPCA usado na elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025 e o efetivado no ano passado. “É uma determinação legal que a abertura desse crédito pudesse acontecer”, disse Tebet.
Haddad destacou que diversas rubricas do Orçamento federal são indexadas à inflação. “Eu não posso ter uma inflação no Orçamento e outra, no salário mínimo”, disse.
Valor de contenção surpreende mercado
A contenção de R$ 31,3 bilhões surpreendeu o mercado. “Nossa avaliação inicial é de que se trata de um ajuste bastante forte, acima das expectativas do mercado e das nossas (R$ 12,5 bilhões)”, afirma o economista Tiago Sbardelotto, da XP investimentos.
“Parece que o governo finalmente traz a realidade logo no primeiro relatório do ano, adotando uma estratégia mais conservadora para manejo do Orçamento deste ano: cortar o que for necessário no início e ir reduzindo essa contenção à medida que que novas receitas ou medidas de redução de despesas se confirmem.”
Os economistas Felipe Salto, Josué Pellegrini e Gabriel Garrote, da Warren Rena, avaliam o valor do contingenciamento como “uma notícia bastante positiva”.
“A opção por um corte maior é uma decisão acertada e deve ser lida como um reforço do governo em relação ao compromisso estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)”, dizem, em nota. “O desafio fiscal, no entanto, está longe de se resolver. Para 2026, a meta estipulada é um superávit de 0,25% do PIB, podendo chegar a zero, dada a banda inferior. Nossa projeção, entretanto, indica um déficit de 0,8% do PIB.”
Colapso em 2027?
As medidas tentam evitar um cenário de colapso das contas públicas que ficou evidente com o envio da LDO de 2026. O cenário apresentado pela equipe econômica, na ocasião, prevê que o poder público fique sem dinheiro suficiente para sustentar os investimentos e manter a máquina pública funcionando a partir de 2027.
Questionado sobre esse cenário, Haddad disse estar “feliz” com o fato de o mercado estar preocupado com a trajetória fiscal até 2027. Ele afirmou que, até o ano passado, a preocupação era exclusivamente com 2024 - ou seja, com o curto prazo. Haddad atribuiu esse processo a avanços na questão fiscal.
“Fico feliz que é 2027, 2028. Quem sabe, no ano que vem, estejam preocupados com 2030. Seria o melhor dos mundos”, disse Haddad.
O ministro destacou que o governo precisa de parcerias e da aprovação de leis para avançar na agenda fiscal, e não pode resolver algumas questões administrativamente. Ele afirmou que as questões relativas às contas públicas têm sido endereçadas com apoio do Congresso e do judiciário, e que isso é uma tarefa do Estado brasileiro.
Qual a diferença entre bloqueio e contingenciamento?
No contingenciamento, o governo congela despesas quando há frustração de receitas, a fim de cumprir a meta fiscal (saldo entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida). Para este ano e para 2025, a meta é de zerar o déficit das contas públicas.
Já o bloqueio é realizado para cumprir o limite de despesas do arcabouço fiscal. Assim, quando há aumento de gastos obrigatórios (como aposentarias, por exemplo), o governo bloqueia despesas não obrigatórias (como custeio e investimentos) para compensar.
Atualização de projeções
A equipe econômica atualizou os indicadores da grade de parâmetros macroeconômicos utilizados nos cálculos da execução orçamentária de 2025.
A equipe econômica aumentou a estimativa para a Selic do ano de 11,67% para 14,28%, uma alta de 2,62 ponto porcentual frente à Lei Orçamentária Anual (LOA). Na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual, para 14,75% ao ano.
A projeção para o câmbio médio deste ano passou de R$ 5,70 para R$ 5,81. A previsão para a alta da massa salarial nominal passou de 9,49% para 12,05%. Já a estimativa para o preço médio do barril de petróleo no mercado internacional passou de US$ 72,87 para US$ 65,09.
Nesta semana, a equipe econômica divulgou a nova projeção para o crescimento da economia neste ano, que foi de 2,45% para 2,38%. A projeção oficial para a inflação medida pelo IPCA passou de 4,9% para 5,0% - acima do teto da meta.
Já a estimativa para o INPC – utilizado para a correção do salário mínimo – passou de 4,80% para 4,90%./Colaboraram Giordanna Neves, Célia Froufe e Cícero Cotrim
Money Times - SP 23/05/2025
A Vale (VALE3) anunciou nesta quinta-feira (22) que aprovou a 11ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, no valor total de R$ 6 bilhões. A operação será dividida em três séries, com prazos de 7, 10 e 12 anos.
Os recursos serão destinados a projetos prioritários no setor de transportes, conforme enquadramento no Ministério dos Transportes. A oferta será pública, com registro automático na CVM, nos termos da legislação vigente.
A Vale informou que o pedido de registro será feito em breve e que manterá o mercado atualizado.
Nesta quinta, a ação da mineradora na Bolsa perdeu 0,75%, tendo como pano de fundo variações modestas dos futuros do minério de ferro na China, onde contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com alta de 0,14%, a 727 iuanes (US$100,93) a tonelada.
Automotive Business - SP 23/05/2025
As montadoras japonesas passam por um grande processo de redesenho de rota no mercado global. Se por um lado a Nissan decidiu cortar na carne para voltar ao lucro, a Honda, por sua vez, vai focar seus esforços no segmento de híbridos (HEV).
A montadora anunciou no Japão seus novos planos a respeito das novas tecnologias de propulsão. Nesse sentido, a aposta hoje é no desenvolvimento de uma oferta cujo mix seja formado em sua maioria por modelos HEV.
A desaceleração do mercado de elétricos puros no mundo, e a consequente revisão das metas de emissões ocorrida em vários países, levou a empresa a baixar sua meta de vendas para menos de 30% do mix de vendas total.
Portanto, a Honda posicionará seus HEVs a serem introduzidos no mercado a partir de 2027 como o sistema de propulsão que desempenhará um papel fundamental durante o período de transição em direção à popularização dos elétricos, informou a empresa.
Até 2030, a Honda se esforçará para aumentar o volume total de vendas de automóveis para acima do nível atual de 3,6 milhões de unidades, com uma meta de vendas de híbridos de 2,2 milhões de unidades como ponto central, seguiu a companhia, em nota.
Honda mira híbridos mais baratos
A montadora informou, ainda, que pretende diminuir o valor dos modelos híbridos da sua próxima leva de veículos por meio de uma nova plataforma para veículos mais compactos.
A Honda diz que vai buscar reduzir o custo do sistema híbrido de próxima geração em mais de 50% em comparação com o sistema híbrido instalado em modelos introduzidos em 2018. E em mais de 30% em comparação com o sistema híbrido introduzido em 2023 nos modelos atuais.
A montadora também reduziu o valor de investimento para eletrificar a sua oferta de veículos. O aporte, segundo a empresa, será de o equivalente a US$ 19 bilhões até 2031. A projeção anterior era bem maior, aproximadamente US$ 64 bilhões.
O Estado de S.Paulo - SP 23/05/2025
A BYD vendeu mais carros elétricos do que a Tesla na Europa pela primeira vez no mês passado, refletindo uma investida agressiva da montadora chinesa no continente, bem como as dificuldades contínuas da empresa de Elon Musk entre os compradores europeus.
A BYD superou a Tesla por menos de 100 veículos, de acordo com dados de 28 países europeus divulgados nesta quinta-feira, 22, pela empresa de pesquisa JATO Dynamics. A BYD vendeu 7.231 carros totalmente movidos a bateria na Europa no mês passado, contra 7.165 da Tesla.
Apesar da pequena margem, este é “um momento decisivo para o mercado automobilístico europeu”, afirmou Felipe Muñoz, analista da JATO, em um comunicado. Os compradores europeus de automóveis parecem dispostos a adotar os carros elétricos chineses, que continuam mais baratos do que as alternativas fabricadas localmente, apesar das tarifas impostas pela União Europeia no ano passado para proteger os produtores nacionais.
As vendas de carros movidos a bateria da BYD aumentaram quase 170% em abril, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Esse número superou em muito o ritmo de vendas de todos os carros elétricos, que cresceram 17% no mesmo período.
Ao mesmo tempo, os europeus estão evitando a Tesla, que durante anos foi a marca de carros elétricos mais popular na Europa. Suas vendas caíram 49% em abril, em relação ao mesmo período do ano anterior, levando a Tesla para a 11ª posição no ranking do mês. No primeiro trimestre do ano, a empresa ficou em segundo lugar em vendas de veículos elétricos, atrás da alemã Volkswagen.
Na Europa, os carros da Tesla ficaram disponíveis pela primeira vez na Noruega em 2014. A produção começou em uma fábrica nos arredores de Berlim em 2022 — o mesmo ano em que a BYD começou a vender carros na Noruega e na Holanda.
A montadora chinesa está construindo uma fábrica na Hungria e outra na Turquia, que podem exportar carros para a União Europeia sem pagar tarifas. Esta semana, a BYD anunciou que estabelecerá sua sede europeia na Hungria, o que, segundo ela, criará 2 mil empregos, inclusive em pesquisa e desenvolvimento.
No último ano, a BYD se expandiu rapidamente por toda a Europa. Se considerados também seus modelos híbridos plug-in, as vendas da BYD aumentaram bem mais de 300% em abril, em comparação com o ano anterior. Por esse critério, a BYD também superou as vendas de marcas europeias consolidadas como Fiat, Dacia e Seat em alguns grandes países europeus.
A Volkswagen, que luta há anos para competir com as montadoras chinesas e também com a Tesla, liderou a lista de vendas de carros elétricos em abril, com mais de 23.500 novos registros, um aumento de cerca de 60%.
As vendas da Tesla na Europa já vinham desacelerando antes mesmo de Musk, o presidente-executivo da empresa, começar a investir milhões para apoiar o presidente Trump no ano passado. Mas a reação aumentou depois que ele assumiu um cargo na Casa Branca, cortando milhares de empregos e realizando cortes profundos nos gastos, incluindo em ajuda externa. No mês passado, as vendas da montadora na Alemanha e no Reino Unido caíram para o menor nível em mais de dois anos.
Globo Online - RJ 23/05/2025
A expectativa dos fabricantes brasileiros de máquinas e equipamentos é manter o volume de exportações para os EUA em 2025, apesar da nova política tarifária americana, que impôs uma sobretaxa de 10% sobre as importações daquele país. O país é o principal mercado internacional para as máquinas e equipamentos brasileiros. Em 2024 o Brasil exportou US$ 13,2 bilhões em máquinas e equipamentos, sendo US$ 3,5 bilhões para os EUA, 26,9% do total.
Quase a metade do exportado para os americanos foi de equipamentos da linha amarela (US$ 1,8 bilhão). São itens como carregadeiras, niveladoras, escavadeiras, compactadores, pavimentadoras de asfalto e caminhões pesados off road voltados para a construção civil e a mineração.
— Esse patamar de participação dos EUA nas exportações brasileiras é histórico, e se mantém com pequenas variações desde os anos 2000 — diz Cristina Zanella, diretora de competitividade, economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
O Brasil, no entanto, responde por pouco mais de 1% das importações americanas do setor. O México é o principal fornecedor, respondendo por 20% das compras internacionais dos EUA em 2023, seguido de China, 14,9% e Alemanha, 12%.
Patamar histórico
Segundo Zanella, ainda é cedo para avaliar os possíveis impactos da nova política tarifaria adotada pelo governo Donald Trump com a sobretaxa de 10%, que praticamente dobra a tarifação das máquinas exportadas pelo Brasil, que já pagavam uma alíquota média de 10,2% para entrar nos EUA.
— O que é possível dizer é que o México, que não foi sobretaxado, terá uma vantagem competitiva — diz Zanella.
A economista ressalta, porém, que os EUA têm muito know how na produção de máquinas e que pode ampliar sua produção local no médio prazo.
— É uma decisão empresarial avaliar se a produção nos EUA será mais competitiva que a importação sobretaxada — diz. — Em muitos produtos eles não serão competitivos. O custo de produzir nos EUA é alto.
A unidade brasileira da Volvo CE exporta para os EUA 80% de sua produção de caminhões articulados, veículos pesados exclusivamente off road, utilizados para o transporte de materiais em terrenos acidentados, com emprego principalmente na área de construção pesada, obras de infraestrutura, e na indústria de mineração. São caminhões com capacidades que variam de 20 a 60 toneladas. Em 2024, a filial brasileira do grupo sueco vendeu 1.100 unidades no país, gerando uma receita de US$ 300 milhões.
— Nossa expectativa é manter o mesmo nível de exportações em 2025, mesmo com as novas tarifas — diz Luiz Marcelo Daniel, presidente da Volvo CE na América Latina.
O mercado americano consumiu, em 2024, por volta de 4.200 destas máquinas. Segundo Daniel, não existem nos EUA fabricantes verticalizados do equipamento, que poderiam se beneficiar da proteção tarifária. Quem produz localmente, depende de peças e componentes importados e também será impactado pelas novas tarifas.
A Volvo conta com uma fábrica na Pensilvânia, onde produz equipamentos como compactadoras e carregadeiras, mas a companhia não tem planos de fabricar caminhões articulados na unidade.
— No Brasil temos toda uma cadeia produtiva montada, muito eficiente e competitiva. Não é fácil reproduzir essa estrutura em outros lugares — afirma Daniel.
Na estratégia global da companhia, apenas Brasil e Suécia produzem caminhões articulados, em plataformas produtivas similares, que oferecem produtos no mesmo estágio de maturidade tecnológica.
A unidade brasileira da CASE Construction Equipment, empresa que pertence ao grupo multinacional CNH, exporta para os EUA tratores de esteira de seis diferentes modelos com capacidades que vão de 6 a 22 toneladas. As máquinas são produzidas em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, fábrica que é o polo mundial da companhia para a produção destes equipamentos.
— A exportação para os EUA representa uma parcela significativa do faturamento desta linha de produto — diz Henrique Sá, líder da CASE para a América Latina.
Visibilidade da marca
Segundo Sá, as novas tarifas impostas pelo governo Trump, até o momento, não geraram um impacto significativo no desempenho das vendas para aquele mercado e a previsão é de manter o volume de exportações em 2025.
— A companhia não prevê alterações em suas operações de exportações a partir do Brasil para os EUA — afirma.
A unidade brasileira da CASE classifica como estratégica a presença no mercado americano, uma vez que gera visibilidade e fortalece a marca no mercado internacional.
Em Contagem, a companhia também produz retroescavadeiras, escavadeiras hidráulicas, pás carregadeiras e motoniveladoras.
Valor - SP 23/05/2025
Obras e serviços de construção representaram a maior parte da fatia movimentada pelo setor naquele ano, com R$ 461,6 bilhões do total
A indústria da construção movimentou R$ 484,2 bilhões no país em 2023, a preços daquele ano, em valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção. A informação consta da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) 2023, divulgada nesta quinta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os valores veiculados pelo instituto não podem ser comparados com edições anteriores da pesquisa, visto que o levantamento não possui deflator inflacionário, informou Marcelo Miranda, pesquisador do IBGE.
Ainda de acordo com Miranda, obras e serviços de construção representaram a maior parte da fatia movimentada pelo setor naquele ano, com R$ 461,6 bilhões do total. O técnico lembrou que incorporações, na prática, representam “o primeiro ano” de uma obra, de maneira geral. Isso porque incorporações imobiliárias são processo no qual empreendedor (incorporador) compra terreno e desenvolve projeto para construir edifícios ou conjuntos habitacionais, com o objetivo de vendê-los posteriormente.
No estudo, os pesquisadores do IBGE fizeram um verdadeiro raio-x do setor ao longo de 2023. Naquele ano, 165,8 mil empresas de construção estavam ativas, empregando 2,5 milhões de pessoas. As companhias, naquele ano, pagaram R$ 89,6 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações.
Por atividades dentro do setor, o IBGE apurou impulso maior de serviços especializados para construção, no total movimentado na área, em horizonte de longo prazo. De 2014 a 2023, a fatia desse segmento, no total do valor de incorporações, obras e ou serviços, subiu de 17,8% para 24%.
“Foi a maior proporção para serviços especializados na série histórica da pesquisa [iniciada em 2007]”, afirmou Miranda.
Em contrapartida, também de 2014 para 2023, diminuíram parcelas de construção de edifícios, de 43,9% para 39,8%; e de obras de infraestrutura, de 38,3% para 36,3%, no total movimentado no setor.
A estrutura de custos do setor mudou pouco, em horizonte de longo prazo, informou ainda o instituto. Em 2023, os gastos com pessoal continuaram com a maior fatia no total de despesas de empresas do setor, com 49% do total – sendo que, em 2014, era de 48,1%. Também em 2023, o consumo de materiais de construção ficou com fatia de 35,9%, ante 36,2% em 2014. Já obras e serviços contratados a terceiros representaram 15,1% das despesas em 2023, ante 15,7% em 2014.
A pesquisa do IBGE é amostral, ou seja, reúne informações de grupo de empresas para mensurar cadência do setor, naquele ano. O universo da amostra abrange 25.870 empresas da área.
O Estado de S.Paulo - SP 23/05/2025
Integrantes da comitiva brasileira que acompanharam a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China na semana passada relataram que o presidente Xi Jinping destacou a relevância da ferrovia bioceânica em reuniões fechadas. Um sinal, segundo atores do governo brasileiro, de que o líder chinês vai embarcar no megaprojeto que corta o País e liga portos do Atlântico ao Pacífico.
Ao Estadão, a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), responsável pelo projeto das rotas de conectividade sul-americanas, da qual a bioceânica é o mais complexo e importante empreendimento, e a ex-presidente Dilma Rousseff relataram que a ferrovia foi mencionada por Xi, ao longo das conversas no Grande Salão do Povo.
Segundo a ministra, Xi ainda relacionou a ferrovia como uma alternativa pela incerteza geopolítica criada pela ameaça do presidente Donald Trump de tomar de volta o Canal do Panamá, sob o argumento que o país centro-americano permitiu que empresas chinesas controlassem parte da operação.
“Numa das falas do Xi Jinping, ele falou, em função do canal do Panamá, dessa insegurança que gerou. Ele falou assim: ‘se justifica a gente estudar realmente a viabilidade de uma ferrovia bioceânica’. Ele até explicou que a empresa era de Hong Kong, então não tem essa coisa de que a China foi derrotada no Panamá”, disse Tebet.
Como o Estadão mostrou, os chineses não bateram o martelo sobre participação no projeto durante a visita de Lula na semana passada, como o Brasil gostaria que ocorresse. O governo brasileiro admitiu que desejava avançar em Pequim.
Como o assunto foi tocado por Xi, ambas destacaram que a burocracia chinesa vai acelerar os trâmites, por causa do peso do envolvimento direto do líder máximo chinês.
O governo brasileiro aposta que os chineses possam ser convencidos a tempo da visita de Xi Jinping ao Rio, nos dias 6 e 7 de julho, para a Cúpula do Brics.
“Tenho a impressão que até a reunião dos Brics a gente assina o termo de cooperação com a estatal chinesa. Porque ainda que eles falem assim ‘não é viável’, eles têm interesse de fazer o estudo. Agora, eles passaram a ter mais interesse do que nós. Quem nos provocou a acelerar foi o presidente Xi Jinping”, afirmou Tebet.
Antes de disputar um leilão em si para construir parte do traçado, o Brasil pediu capital estatal chinês e expertise para financiar e elaborar o projeto executivo da ferrovia. Nos planos do governo Lula, a ferrovia seria apenas uma segunda etapa das rotas de integração, inicialmente focada em rodovias.
O governo Lula já definiu um traçado, que segundo Tebet passa por grande parte de margem de rodovias, o que facilitaria o processo de licenciamento. A ideia é que a ferrovia saia de Ilhéus (BA), emendando trechos da FIOL e da FICO, e atravesse a cordilheira dos Andes para se conectar a dois portos chilenos (Arica e Antofagasta) e um peruano (Chancay) - maior obra chinesa na América do Sul, inaugurada por Xi no ano passado.
Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), braço financeiro do Brics, Dilma afirmou que Xi Jinping está pessoalmente envolvido, o que muda o patamar das decisões na burocracia chinesa - da qual Lula se queixou durante a visita. Conforme a ex-presidente, Xi afirmou saber da importância do projeto para o Brasil, e os chineses são o parceiro ideal para a empreitada.
“Eles sabem o que é importante para nós, e nós sabemos o que é importante para eles”, disse Dilma. “Se não for eles, quem (será)? Quem tem essa expertise e quem tem interesse? Eles têm interesse, e nós temos interesse.”
Dilma também afirmou que os chineses têm capital para fazer o projeto sozinhos, sem depender de recursos, por exemplo, do próprio NDB. “Para que, se eles têm os quatro maiores bancos do mundo? Têm seis dos dez maiores bancos... Eles têm munição para fazer o que bem entenderem.”
Segundo Tebet, durante a visita de Xi a Brasília, no ano passado, o próprio líder chinês perguntou de forma recorrente sobre uma ferrovia no Brasil. Ela estimou que o projeto pode demorar de três a cinco anos, caso os chineses participem, e mais de vinte anos sem os chineses.
No mês passado, a estatal chinesa responsável - China State Railway Group - veio ao Brasil e discutiu o traçado com o governo brasileiro, conforme a ministra, de cerca de 2,5 mil a 3 mil quilômetros. A rota passa pelo celeiro do centro-oeste e pelo Matopiba.
Tebet reiterou em Pequim que o dinheiro público e o capital privado brasileiros não conseguem financiar o projeto. Ela chegou a pedir uma decisão em 30 dias.
“Não é o valor do projeto executivo, é a rapidez e a velocidade que a China tem. O que queremos é a expertise, o estudo técnico de viabilidade. Qual é o custo do quilômetro, quanto tempo, de que material... Porque eles conseguem fazer isso em dois, três meses. E nós levamos três anos”, afirmou Tebet. “A partir daí, a gente fica de olho no fundo de investimento privado chinês para fazer a ferrovia. Acredito que nos próximos 10 a 15 anos não teremos investimento privado no Brasil capaz de fazer ferrovia.”
No Palácio do Planalto, a expectativa também é que haja avanços durante o encontro entre Lula e Xi no Rio, conforme duas autoridades da Presidência da República. Embora sem que nada tenha sido assinado, diplomatas dizem considerar que a negociação avançou.
alor - SP 23/05/2025
Fornecedores de equipamentos e serviços para vias defendem modelo local para aumentar agilidade e proteger contra o câmbio
Setor de manutenção de ferrovias se reúne a cada quatro anos na IAF, feira do setor que acontece na Alemanha — Foto: Rodrigo Rocha/Valor
No atual ciclo da operação de ferrovias brasileiras, principalmente a partir das negociações de renovação de concessões, as grandes operadoras têm investido cada vez mais na manutenção das vias, num esforço para melhorar a qualidade e reduzir problemas futuros. Da ponta de quem fornece esses equipamentos e serviços, que têm valor elevado, a preocupação é com o fortalecimento do mercado local, seja do ponto de vista de agilidade, redução de custos e para proteção contra um câmbio cada vez mais instável.
Após um momento em que o grande foco foi a aquisição de material rodante - locomotivas e vagões -, as máquinas de manutenção e renovação de vias têm ganhado espaço. Além de crescer a quantidade de vagões, é importante elevar a velocidade média do transporte, algo que é possível com ferrovias mais estáveis.
“No momento que estamos no Brasil, a manutenção da ferrovia é mais importante. Nos anos iniciais, não se investiu na manutenção porque custa, mas agora, com as renovações, isso está transformando”, explica Göran Sjöström, diretor de vendas da Plasser &Theurer, fabricante austríaca de equipamentos de manutenção de ferrovias.
A gente acredita de fato no crescimento, tanto que fizemos ampliação”
— Victor Araújo
Um dos ajustes mais importantes das ferrovias é na chamada geometria da via, ou seja, na posição de cada componente que garante a estabilidade dos trilhos. Nesse cenário, um elemento relevante é o lastro, feito de brita, onde são apoiados os dormentes e trilhos. Com o passar do tempo, a movimentação dos vagões e locomotivas, além da exposição ao clima, reposiciona essa brita e, consequentemente, toda a estrutura que fica sobre ela, o que deixa a ferrovia mais instável e reduz a velocidade de circulação.
Um dos equipamentos mais utilizados para ajuste dessa geometria é a socadora, máquina de grande porte que é utilizada para reposicionar o lastro. Apesar de ser considerada essencial, ela sofre com um custo muito alto, como outros equipamentos usados no segmento. Uma máquina nova, de modelo mais simples, custa cerca de € 4 milhões.
O parque ferroviário brasileiro já possui dezenas dessas e outras máquinas de grande porte e custo milionário, cuja vida útil pode chegar a 40 anos. Mas manutenções mais complexas não são interessantes economicamente em alguns casos, por questões cambiais e tributárias.
“O Brasil gosta de usar o ativo por bastante tempo. Então como a gente consegue criar soluções para pegar essa máquina ‘vintage’ e transformar em algo mais novo?", questiona Victor Araújo, CEO da Plasser do Brasil, principal fornecedora de equipamentos de manutenção de via no país. “É preciso criar um pacote local para vender tudo isso, porque se eu for trazer tudo de fora, vale mais comprar uma máquina nova.”
As reconstruções mais completas de equipamentos antigos, os retrofits, têm ganhado força na Europa, pelo custo menor, 20% abaixo de um produto novo. A prática no Brasil, entretanto, não é interessante. A aquisição de uma máquina nova costuma entrar no regime de ex-tarifário, ou seja, sem imposto de importação. Já para peças, o mecanismo não tem o mesmo efeito, o que encarece o processo.
Para reverter esse quadro, e fortalecer a operação local, a Plasser deixou seu parque mais antigo, no Rio de Janeiro, inaugurado em 1980, e foi para Hortolândia (SP), em uma área maior, com espaço para mais equipamentos.
“A gente acredita de fato no crescimento, tanto que fizemos um movimento de ampliação. Saímos de uma planta que não cabia nossas máquinas”, detalha Araújo. “As operadoras também estão se modernizando, então é algo que a gente está tentando fazer com a criação da nossa engenharia local. Criar mais independência local, engenharia de Brasil para Brasil. Não necessariamente uma solução daqui [da Europa], funciona lá.”
O setor produtivo brasileiro, até pela presença de multinacionais com produção de outros equipamentos ferroviários, acredita que é capaz de atender localmente essa demanda.
“A maioria das nossas fabricantes também está na Europa ou nos Estados Unidos, então toda a melhor tecnologia, a mais atualizada, nós temos o repasse das matrizes. E nossos técnicos da indústria local trabalham em consonância no sentido de aprimorar e adaptar para a situação brasileira”, defende Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer).
Outros fornecedores também creem nessa capacidade de competição, e destacam que os clientes brasileiros, principalmente as maiores operadoras, têm se preocupado com a qualidade do serviço, e não apenas com preço.
Para Leonardo Alves, diretor-gerente da Thermit do Brasil, que atua com soldagem aluminotérmica, utilizado para união de trilhos, o cliente brasileiro tem sido mais criterioso que em outros países. “O mercado brasileiro é muito qualitativo, o que é uma coisa boa. É uma tendência já há algum tempo. Você consegue trazer inovação, processos diferentes, coisas novas para o Brasil e que efetivamente é possível implementar.”
A produção da Thermit é toda nacional para o processo de solda, o que, segundo Alves, mesmo que não garanta sempre o menor preço, agrega outros fatores que têm pesado para os clientes brasileiros, como agilidade no fornecimento e assistência técnica.
Outro fornecedor de grandes equipamentos para manutenção e renovação de vias, a suíça Matisa tem desenvolvido um modelo que importa as máquinas, mas que a conservação tem se utilizado de produtos locais.
“A gente tem um parceiro que fabrica peças da Matisa com controle de qualidade, homologado, e com exclusividade. O que podemos, fabricamos localmente, por uma série de questões como prazo e custo reduzido”, afirma Bruno Bonella, diretor comercial da Matisa no Brasil.
Outro ponto em favor da nacionalização é a proteção cambial. A instabilidade do real frente a moedas como o dólar e o euro tem dificultado ainda mais as negociações do setor, que costumam durar meses, em alguns casos, anos.
“A nacionalização protege a gente. A falta de estabilidade [no câmbio] impacta muito o nosso negócio, afeta inclusive as negociações de máquinas e serviços. Você acaba perdendo competitividade”, reforça Victor Araújo.
O jornalista viajou a convite da Plasser
Exame - SP 23/05/2025
O governo de São Paulo e o Grupo Comporte assinaram o contrato de concessão patrocinada do Lote Alto Tietê, que contempla as linhas 11, 12 e 13 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), além da operação do Serviço Expresso Aeroporto, que conecta a capital paulista ao Aeroporto Internacional de Guarulhos.
O projeto prevê R$ 14,3 bilhões em investimentos privados ao longo de 25 anos de contrato. O documento foi publicado no Diário Oficial nesta quinta-feira, 22.
A companhia venceu o leilão realizado no fim de março, com proposta de desconto de 2,57% em relação à contraprestação que será paga pelo governo do estado.
O Grupo Comporte é ligado à família Constantino, fundadora e controladora da Gol Linhas Aéreas, e opera várias empresas de ônibus urbanos e rodoviários, como a BR Mobilidade, Piracicabana e Prata. Em 2022, a empresa levou a concessão do metrô de Belo Horizonte, e em 2024 venceu o leilão de concessão da Linha 7-Rubi e da construção e operação do projeto de trem que ligará São Paulo a Campinas, o TIC.
Segundo a gestão estadual, a futura concessionária será responsável por ampliar, reformar e operar os três ramais ferroviários. O objetivo é reduzir o tempo de espera entre os trens, aumentar a oferta de viagens e expandir a rede.
A gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirma que a remuneração da empresa será feita por disponibilidade, modelo que busca garantir previsibilidade financeira e estimular melhoria contínua nos serviços.
Entenda o processo operacional
A fase pré-operacional, dedicada a treinamentos, adaptação tecnológica e assunção progressiva da operação das linhas, começará em 60 dias, quando o contrato completa a data de eficácia — momento em que passa a produzir efeitos jurídicos e operacionais. Terá duração de 12 meses.
Nesta fase, também são realizados estudos voltados para a resiliência climática e para a mitigação de riscos relacionados a eventos extremos, com foco na segurança do sistema.
Concluída a fase pré-operacional, começa a fase operacional, que se estende até o fim da concessão. Ela é composta, inicialmente, por um período de 12 meses de operação assistida, durante o qual a CPTM acompanha e supervisiona a atuação da concessionária.
Após esse período, tem início a operação comercial plena, quando a CPTM deixa de prestar assistência direta e a concessionária assume integralmente a gestão do sistema. A fiscalização do contrato ficará a cargo da Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp).
O que prevê o contrato das linhas 11, 12 e 13?
Serão construídas dez novas estações e reformadas as 24 já existentes, além da eliminação de todas as passagens ao nível, que serão substituídas por passarelas, viadutos ou passagens subterrâneas.
As linhas também passarão por investimentos na rede aérea, via permanente e sinalização, além da implantação de novos equipamentos e sistemas.
Até 2040, a previsão do governo estadual é que as três linhas juntas transportem 1,3 milhão de passageiros por dia em média útil.
O que muda para o passageiro?
A concessão promete reduzir os intervalos entre trens. Veja como será em cada linha:
Na Linha 11–Coral, o intervalo será reduzido para 3 minutos entre Palmeiras-Barra Funda e Suzano, e para 6 minutos entre Suzano e Cesar de Sousa. A linha será estendida em 4 km, chegando até a Estação Cesar de Sousa, com ampliação do serviço até a Barra Funda. Na Linha 12–Safira, o intervalo entre Brás e Itaquaquecetuba passará de 5 para 3 minutos e 15 segundos, e entre Itaquaquecetuba e Suzano, de 10 para 6,5 minutos. A extensão da linha será de 2,7 km até Suzano. Na Linha 13–Jade, o intervalo será reduzido para 10 minutos. O ramal será ampliado até Bonsucesso, com 15,6 km de novos trilhos. O Expresso Aeroporto passará a operar com viagens a cada 30 minutos no horário de vale e a cada 1 hora nos horários de pico.
Valor - SP 23/05/2025
Discussões em audiência pública liderada pelo USTR se limitaram a uma proposta de tarifa de 100% sobre guindastes de transporte marítimo e de 20% a 100% sobre equipamentos de movimentação de carga, como contêineres, chassis e peças de chassis
Os esforços do governo Trump para trazer a construção naval de volta aos Estados Unidos, cobrando altas taxas portuárias sobre navios de propriedade, operação e construção de chineses, bem como impondo novas tarifas sobre guindastes fabricados na China, geraram forte resistência de fontes do setor na segunda-feira (19).
Em uma audiência pública liderada pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), as discussões se limitaram a uma proposta de tarifa de 100% sobre guindastes de transporte marítimo (STS) e tarifas de 20% a 100% sobre equipamentos de movimentação de carga, como contêineres, chassis e peças de chassis.
Um painel governamental composto por representantes do USTR, da Administração de Pequenas Empresas e dos departamentos de Transporte, Comércio, Agricultura, Estado, Tesouro, Segurança Interna e Trabalho bloqueou os comentários de representantes do setor que protestavam contra o anúncio de 17 de abril da implementação gradual de taxas portuárias em navios relacionados à China, bem como das taxas propostas para todos os porta-veículos fabricados no exterior.
"Por favor, guardem seu depoimento sobre as ações propostas", disse Megan Grimball, do USTR, que presidiu o painel, direcionando a discussão de volta para a tarifa de guindastes.
Cary Davis, executivo-chefe (CEO) da Associação Americana de Autoridades Portuárias (AAPA), que representa 81 portos públicos dos Estados Unidos, disse que a associação compartilha a missão de ver os guindastes construídos nos Estados Unidos, mas que o Congresso precisa primeiro promulgar um crédito tributário para estimular a produção doméstica. "Não há produtores americanos de guindastes STS", disse ele na audiência. "Não há desde pelo menos a década de 1980."
Fora da China, apenas três empresas disponibilizam guindastes STS para compra internacional, explicou Davis em um comentário por escrito: a Mitsui E&S do Japão e a Konecranes e a Liebherr da Europa, nenhuma das quais tem capacidade de produção para atender à demanda.
O CEO do Porto de Houston, Charlie Jenkins, explicou na audiência que seu porto agora tem oito guindastes navio-terra sob contrato com a China, com entrega prevista para a primavera de 2026.
"Esses guindastes foram encomendados em julho de 2024", disse Jenkins. Isso ocorreu meses antes do anúncio das novas tarifas.
A tarifa proposta de 100% se somaria à tarifa de 25% já existente, introduzida em 2024. E se as tarifas de 145% de Trump sobre produtos chineses retornassem após a pausa atual de 90 dias, então "uma tarifa de 270% sobre esses oito guindastes equivaleria a US$ 302,4 milhões", disse Jenkins. "Isso seria devastador para nossa capacidade de investir em nossos terminais, atender às necessidades futuras de carga e para os empregos em nossa região e país."
As tarifas propostas entram em conflito com as negociações comerciais em andamento com a China, disse a presidente Kathy Metcalf, da Câmara de Navegação da América, que representa 21 empresas sediadas nos Estados Unidos que possuem, operam ou fretam navios-tanque e porta-contêineres.
"Com base nas discussões produtivas entre os Estados Unidos e a China em Genebra no início deste mês, achamos que é contraproducente ter negociações sobre tarifas, bens e serviços, mas depois tentar impor taxas portuárias, tarifas sobre os guindastes e sobre os próprios meios de transporte que são usados para movimentar essa carga", disse ela na audiência.
Monitor Digital - RJ 23/05/2025
Conversamos sobre o resultado da Petrobras no 1T25 com Pedro Galdi, analista CNPI do AGF.
Qual a sua avaliação sobre o resultado da Petrobras no 1T25?
No 1T25, a Petrobras teve uma receita líquida de R$ 123 bilhões, 5% acima do 1T24 e 1,5% acima do 4T24. O Ebitda foi de R$ 61 bilhões, 2% acima do 1T24 e 49% acima do 4T24, e a margem Ebitda de, praticamente, 50%, o que é excelente, sendo no 4T24 ela havia sido de 34%. Cabe mencionar que no 4T24 o Ebitda e a margem Ebitda haviam sido prejudicados por eventos não recorrentes. Com relação à margem líquida, ela teve um belo resultado de 29%. Por fim, a Petrobras teve um lucro de R$ 35 bilhões, 49% acima do 1T24, sendo que no 4T24 a companhia havia tido um prejuízo de R$ 17 bilhões por razões contábeis.
Um ponto importante é que o preço do petróleo Brent girou na faixa de US$ 70 no 1T25. Quando o balanço do 1T25 foi divulgado, o preço já estava em US$ 65 e a presidente da Petrobras disse que a companhia teria que apertar os cintos. Pouco tempo depois, estava em US$ 63. Segundo a companhia, nesse nível de preço os seus números do 2T25 podem não ser tão bons, mas por mais que tenhamos que acompanhar essa questão, um evento pontual de um trimestre não tira os fundamentos de médio e longo prazo da Petrobras.
Outro ponto é que a Petrobras teve um ganho cambial no 1T25 devido a atualização da sua dívida em dólar. Olhando a dívida da Petrobras, ela está em 1,45x o seu Ebitda, sendo que no passado, essa relação chegou a bater em 5x. Para o mercado, 3x é a linha a ser observada. Passou daí, começa a ficar perigoso, pois a empresa está alavancada, mas não é esse o caso.
A Petrobras teve um bom resultado no 1T25, mas por conta da queda do preço do petróleo, ele não foi tão surpreendente.
Como se deu a reversão do prejuízo do 4T24 para o lucro do 1T25?
O que aconteceu foi a questão cambial. Como no 4T24 o dólar subiu, a dívida da Petrobras em dólar também subiu e a companhia teve que reconhecer isso na sua dívida nominal em reais, que também subiu. Esse efeito é contabilizado como variação cambial, impacta o resultado, mas não afeta o caixa, ou seja, o seu impacto é puramente contábil. No caso da Petrobras, o que aconteceu no 4T24 não afetou o seu dividendo, pois ele não é calculado com base na linha final, mas sim pelo seu fluxo de caixa livre.
Quando sai um resultado da Petrobras quais são os primeiros números que você analisa?
O preço do petróleo e o câmbio são os dois primeiros fatores a serem observados. Em cima deles, você vai projetando as contas até chegar ao Ebitda, que, para mim, é a grande linha do demonstrativo da Petrobras, pois, em cima dele, você vê a saúde da geração de caixa da empresa e a variação da relação dívida/Ebitda. Esses são os grandes números, mas nós também olhamos o conjunto, os investimentos e a cabeça da companhia sobre os próximos passos.
Como você tem visto o desempenho das unidades Refino, Transporte e Comercialização e Gás & Energias de Baixo Carbono?
Empresas de commodities como a Vale e a Petrobras têm que buscar eficiência operacional e reduzir constantemente o custo, pois elas não têm domínio sobre o preço da commodity na linha de receita. Se essas empresas tiverem um custo baixo, elas suportam as oscilações dos preços das suas commodities. É por isso que elas anunciam, constantemente, melhorias na parte de custos e despesas operacionais, tanto que a Petrobras disse, na sua teleconferência de resultados, que ia começar a apertar o cinto e a rever a fila de projetos a serem desenvolvidos. Não é que a Petrobras vai postergar os projetos ou deixar de investir, mas, em linhas gerais, eu acredito que a companhia vai mudar a ordem da fila dos projetos. Assim, se um projeto tiver um custo mais alto, mesmo que tenha um bom retorno, a Petrobras vai optar por projetos que tenham um custo menor para melhorar a sua margem.
Como a Petrobras é uma empresa de petróleo, ela precisa ter reserva e produção. Ela não vai deixar de fazer um projeto que vai lhe entregar petróleo e combustíveis, pois se ela parar, ela vai perder market share. Nesse caso, nós teríamos um caos. Por exemplo, como o Brasil possui um desbalanceamento de diesel, ele precisa importá-lo, pois não tem capacidade para atender a demanda.
Se a Petrobras deixar de investir, ela pode gerar esse descasamento em outros produtos, e não apenas na gasolina, diesel ou álcool. Existe uma série de subprodutos dentro do petróleo que atendem, por exemplo, as cadeias petroquímica e de celulose.
Qual a sua avaliação sobre os investimentos da Petrobras?
Por mais que o Brasil tenha uma economia que cresça em “banho maria”, ele precisa aumentar a oferta para atender a sua demanda. Dessa forma, a Petrobras precisa aumentar as suas reservas para acompanhar esse equilíbrio. Em termos de equipamentos, a Petrobras tem anunciado investimentos em navios-plataforma (FPSO – Floating Production Storage and Offloading) que possuem uma produtividade enorme.
Com relação à exploração, o pré-sal ainda possui campos potenciais que oferecem uma probabilidade muito grande de manter a sua participação no todo, mas por mais que o pré-sal continue por muito tempo, as reservas são finitas. Para isso, a Petrobras tem Pelotas e a Margem Equatorial, que pode ser um novo pré-sal que vai garantir uma produção por anos e anos. Além disso, a Petrobras possui outras possibilidades como a Colômbia.
Outro ponto é que a Petrobras pode desenvolver hidrogênio verde no futuro, o que pode ser interessante, apesar do custo de energia para se fazer isso hoje ser absurdo. Enfim, os investimentos da Petrobras são voltados para a redução de custos e de despesas operacionais.
Qual a sua avaliação sobre o endividamento da Petrobras?
No 1T25, a dívida líquida da Petrobras ficou em R$ 322 bilhões. Nominalmente, esse número é expressivo, mas a relação anualizada dívida líquida/Ebitda ficou em 1,45x, sendo que no 1T24 essa relação havia sido de 0,86x. Esse pulo aconteceu porque parte da dívida da Petrobras é dolarizada e pela necessidade pontual de tomar recursos de terceiros para bancar os investimentos quando necessário. Esse efeito cambial não impacta o caixa, mas o problema do câmbio alto é quando você tem que pagar a dívida. Inclusive, a Petrobras pode aumentar um pouco essa relação, pois se esse aumento estiver relacionado ao investimento na produção, o mercado vai absorvê-lo bem.
O total de R$ 322 bilhões em dívidas é um número que assusta, mas como a Petrobras é muito grande, os seus números são muito grandes. O importante é que o nível de endividamento hoje é muito confortável para ela. É só não fazerem besteira.
Qual a sua avaliação sobre os dividendos pagos pela Petrobras?
Segundo a legislação, uma empresa tem que pagar 25% do seu lucro líquido ajustado. Agora, existem empresas que pagam mais que isso, como a Vale, que paga um payout de 50%, e a Petrobras, que paga 45% sobre o fluxo de caixa livre. Isso faz da Petrobras uma boa pagadora de dividendos, com um yield de 10%, 11% ao ano. Quando uma pessoa diz que vai para a renda fixa, já que a Selic está em 14,75%, ela abre mão do potencial de valorização da ação enquanto estiver parada nesse tipo de investimento.
O que fica na dúvida é o pagamento do dividendo extraordinário, mas os grandes controladores da Petrobras, não vamos nos enganar, têm interesse nesses dividendos. A Petrobras disse que isso vai depender muito do preço do petróleo, pois ela não vai afetar a sua estrutura de capital, aumentando uma relação dívida líquida/Ebitda, que está normalizada, para criar um “problema” lá na frente.
Como reservas surgem e acabam, a Petrobras tem que descobrir novas reservas que vão substituir as reservas que já são exploradas e que vão acabar no futuro. Nesse equilíbrio de reservas, caso saia a Margem Equatorial, ela pode mexer no valor da ação da Petrobras ou ela entraria nessa questão do equilíbrio?
Se for descoberta uma reserva que seja, por exemplo, uma vez e meia o pré-sal, com certeza vai haver um impacto no papel. Da mesma forma, se não for o que se espera, o papel vai sofrer. Não podemos nos esquecer que o comportamento das ações de empresas de commodities tem muito a ver com o fluxo de notícias. Assim, dependendo do que sair da reserva da Margem Equatorial, isso pode ser um direcionador importante.
Qual a sua avaliação sobre as perspectivas da Petrobras para o restante de 2025?
Essa é aquela resposta que depende muito do preço do petróleo. Eu li que a Opep está estudando o aumento da produção de petróleo. Se ela realmente aumentar essa oferta, isso pode prejudicar o preço do Brent e atrapalhar o desempenho da Petrobras no 2T25. É o preço do petróleo que vai definir uma série de situações.
Como você vê a Petrobras daqui a 20 anos?
Por mais que se fale que o petróleo é finito, vai demorar muito tempo para que ele acabe, pois ainda vamos ter necessidade de petróleo para um monte de coisas. Pode não haver a demanda que existe hoje para transporte, mas o carro elétrico já foi tentado várias vezes e não deu em nada. A tecnologia vai evoluir, mas a demanda por petróleo e seus derivados vai continuar existindo, talvez não da forma e na quantidade que é hoje. Nesse caminho, a Petrobras vai ter que criar uma diversificação natural, o que pode passar pelo hidrogênio verde, desde que o custo de energia seja baixo, mas, no curto prazo, eu não vejo isso acontecendo.
Por exemplo, quando a Vale foi privatizada, o que dava dinheiro era a siderurgia, e não o minério de ferro. A siderurgia era o filé mignon, mas nesses descompassos do mundo, de repente ela deixou de ser lucrativa e o minério de ferro passou a ser lucrativo. Como os braços vão mudando conforme o seu momento, tudo vai da estratégia de olhar para a frente e não fazer besteira. Em 10, 20 anos, algumas coisas vão mudar na Petrobras, mas o petróleo e os seus derivados não vão deixar de ser representativos. Eles vão perder um pouco de peso, mas a Petrobras vai encontrar receitas em outros negócios, talvez no hidrogênio verde.
TN Petróleo - RJ 23/05/2025
A ANP autorizou, ontem (21/05), a entrada em operação do FPSO Alexandre de Gusmão. O navio-plataforma já está no campo de Mero, localizado no pré-sal da Bacia de Santos, a aproximadamente 190 km da costa da cidade do Rio de Janeiro, e operado pela Petrobras.
O processo de autorização pela ANP prevê a aprovação de aspectos de segurança operacional e dos sistemas de medição da produção. A Agência iniciou as inspeções e auditorias quando a plataforma ainda se encontrava no estaleiro, na China, e o trabalho foi concluído depois da chegada da unidade ao Brasil.
A auditoria da ANP ainda no estaleiro permite a identificação de não conformidades em estágios iniciais e a sua correção que, no caso da FPSO Alexandre de Gusmão, foi realizada pela Petrobras e pela SBM Offshore, proprietária da instalação.
Além de agilizar a autorização, esse procedimento torna a operação da instalação mais segura.
No que diz respeito aos sistemas de segurança operacional, foram realizados pela ANP 57 pareceres e 79 análises de condicionantes, para se chegar a 45 aprovações.
Quanto aos sistemas de medição, foram analisadas centenas de documentos e identificadas 15 não conformidades, sendo cinco delas críticas, ainda na fase de estaleiro, bem como a avaliação e aprovação das correções feitas pelas empresas. Esses sistemas são essenciais para garantir a medição precisa da produção de petróleo e gás da plataforma, que impacta nos royalties e outras participações governamentais devidas pela operadora.
A unidade, afretada pela Petrobras da empresa SBM Offshore, possui capacidade para produzir até 180 mil barris de petróleo por dia (bpd) e processar até 12 milhões de metros cúbicos de gás. Atualmente, já estão em operação no campo de Mero os FPSOs Pioneiro de Libra, Guanabara, Sepetiba e Marechal Duque de Caxias.
Valor - SP 23/05/2025
Presidente da Petrobras, que completa um ano no cargo, crê em licença na Foz do Amazonas
Prestes a completar um ano na presidência da Petrobras, data que comemora neste sábado (24), a engenheira Magda Chambriard tem dedicado parte de seu tempo às discussões sobre a viabilidade de se produzir petróleo na bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial. “Não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração”, disse Chambriard na entrevista que concedeu nesta quinta-feira (22) ao Valor, na sede da empresa, no centro do Rio. No Brasil, a Foz do Amazonas é vista com grande potencial para repor reservas da companhia nos próximos anos, embora também seja considerada sensível por ambientalistas que temem os efeitos da atividade petrolífera na região.
Chambriard diz, porém, que a Petrobras está “confortável” com o que considera ser “o maior plano de emergência individual” já visto para exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas. Ela se refere a toda a estrutura montada pela empresa no Pará e no Amapá para fazer frente a eventuais vazamentos de óleo. Diz que sempre deu como certa a concessão da licença pelo Ibama para a perfuração do primeiro poço na Foz do Amazonas, o que ainda não ocorreu, uma vez que depende de vistorias pelo órgão ambiental. Mas reconheceu que há fatores nesse processo que não estão ao alcance da estatal.
Chambriard também comentou sobre polêmica na qual se envolveu este mês ao falar em evento, nos Estados Unidos, no qual usou a expressão popularizada pelo presidente americano, Donald Trump: “Let's drill, baby.” Ela explicou que a frase foi um chamado a autoridades do Amapá, presentes ao evento, no sentido de desenvolver a região. A presidente da Petrobras defendeu ainda que a União tem o direito de vender parte de áreas do regime de partilha da produção no pré-sal que estão sem contratos. A medida seria visto no governo como uma forma de aumentar a arrecadação. Veja a seguir os principais trechos da entrevista ao Valor:
Valor: As respostas recentes do Ibama sobre o pedido da Petrobras para perfurar a Foz do Amazonas a deixaram mais otimista sobre a concessão da licença ambiental?
Magda Chambriard:Sempre contei com a licença ambiental. O que não sabia precisar é quanto tempo ia demorar e quanto tempo a gente ia levar para atender todas as requisições do Ibama, e se o Ibama eventualmente teria uma outra questão a ser sanada, essa é a parte que eu não sabia, nem poderia precisar. Entendo o Ibama como uma entidade que atua dentro da técnica, dentro dos regulamentos institucionais. E se a Petrobras, que é a maior empresa do país, não conseguir cumprir as condicionantes, quem é que vai cumprir? É nossa obrigação cumprir as condicionantes. Estamos ofertando lá [no Pará e Amapá] o maior plano de emergência individual já visto para águas profundas e ultraprofundas. Então não vejo nenhuma razão para essa licença não ser dada.
Dois terços da energia consumida no Brasil vêm de fontes renováveis”
Valor: As cartas da Petrobras ao Ibama são uma forma de empresa pressionar o órgão ambiental para que haja liberação da licença?
Chambriard:As cartas são nossa obrigação mandar. Oficiamos o Ibama dizendo que estaremos prontos em determinado tempo e que nesse período podemos estar com a sonda lá [no Amapá]. É o melhor juízo de valor sobre o cronograma, partindo do pressuposto que a resposta do Ibama é imediata. Se o Ibama demorar mais um pouco para dar autorização, para marcar a fiscalização, se demorar mais para agendar a data do exercício [de simulação de vazamento], é algo que foge ao nosso controle.
Valor: A Petrobras trabalha com data possível para a perfuração?
Chambriard:Não, nossos esforços estão no exercício pré-operacional [de simulação de vazamento], na fiscalização da unidade [de proteção à fauna], já feita pelo órgão ambiental amapaense. Mas o Ibama tem que fiscalizar também. Nosso esforço agora é tratar com o Ibama a data da fiscalização e a data do exercício pré-operacional.
Valor: A ministra Marina Silva disse esta semana que a decisão sobre explorar petróleo não é do Ibama ou do Ministério do Meio Ambiente, mas do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Concorda com essa avaliação?
Chambriard:A política energética nacional é responsabilidade do CNPE, formado pelos ministros de Minas e Energia, Meio Ambiente, Fazenda e Planejamento, entre outros. Quando a gente decide uma política energética do país, e o petróleo está inserido nessa política, a decisão é desse conselho. Mas cada um tem uma responsabilidade. O Ministério de Minas e Energia dá direcionamentos e o MMA dá as diretrizes ambientais e faz as fiscalizações. É assim que funciona. O que acontece é que, em termos de licenciamento ambiental, às vezes acreditamos que eles demoram um pouquinho mais.
Valor: Eles quem no caso?
Chambriard:O grupo de licenciamento ambiental, formado por Ibama, órgãos ambientais nos Estados e Instituto Chico Mendes, este quando envolve reservas. Uma coisa que também é perdoável porque a quantidade de trabalho e as demandas de licenciamento e fiscalização são muito grandes.
Valor: Uma interpretação para a fala da ministra Marina é que ela tem só um voto no CNPE, mas o MMA e o Ibama levam a culpa...
Chambriard:Prefiro não adentrar nesse tema porque é mais dela do que meu.
Valor: Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na Globonews, a senhora disse que a Petrobras colhe o “infortúnio” do nome Foz do Amazonas. Pode explicar melhor?
Chambriard:Até hoje, quando abro meu LinkedIn, vejo uma confusão enorme de pessoas dizendo: ‘Vai estragar a Amazônia.’ Não estamos querendo furar na Amazônia, furar na beira do rio [Amazonas]. O nível de desinformação é muito grande. A área que estamos pretendendo furar fica a 540 quilômetros da ilha do Marajó, que está na foz do rio Amazonas. É duas vezes a distância do pré-sal para a praia de Copacabana. E se a gente confia na Petrobras para perfurar no pré-sal, em frente à Angra dos Reis, à praia de Copacabana, por que não confiar para perfurar no Amapá? Se considerarmos da costa do Oiapoque, a perpendicular mais próxima, até a área a ser perfurada são 185 quilômetros, praticamente a mesma distância do pré-sal para a costa [do Rio]. Estamos confortáveis com o que estamos oferecendo em termos de possibilidades de contenção [de vazamento]. Não conheço outra empresa no mundo de tal porte para operar em águas profundas e ultraprofundas como a Petrobras.
A Braskem é um ativo que nos interessa, mas nós não vamos estatizá-la”
Valor: Este mês a senhora usou, em palestra nos Estados Unidos, a expressão ‘let's drill, baby’, reproduzindo uma fala de Donald Trump, que é favorável à flexibilização de regras ambientais para impulsionar os hidrocarbonetos. A frase foi mal colocada?
Chambriard:Não, a frase simplesmente é assim. Não poderia dizer: ‘Vamos perfurar [em português] porque eu estava nos Estados Unidos. Lá perfurar é: ‘Let's drill. Quem estava ali? O governador do Amapá [Clésio Luís], o Josiel Alcolumbre [do Sebrae, no Amapá] e outras personalidades interessadas no desenvolvimento da margem equatorial brasileira. Eu disse: ‘Olha, nós estamos aqui preocupados em redução de custos.’ Fomos aos Estados Unidos em busca de diversificar fornecedores com um claro objetivo de aumentar a oferta para reduzir custos. Tínhamos feito a mesma coisa na China [dias antes]. Essa [necessidade de] redução de custos é óbvia porque saímos, no começo do ano passado, de um Brent a US$ 83 por barril e estamos agora pouco acima de US$ 60 por barril. A economia é mandatória. Apertar os cintos nessa altura é nossa obrigação. Eu estava ali olhando para o governador Clécio e disse: ‘Governador, nós não temos razão nenhuma para não perfurar. Nós temos aqui a obrigação de olhar, sim, o potencial do Brasil, o potencial do Amapá, e a obrigação de fazer isso em benefício da sociedade do Amapá e da sociedade brasileira. É isso que estamos fazendo. O papel de uma estatal é ajudar o desenvolvimento do país. Então, let's drill, baby.
Valor: Mas não é uma contradição querer explorar petróleo na região amazônica no ano em que o Brasil sedia a COP30?
Chambriard:Nós estamos nesse processo há dez anos. Nesse período aconteceram várias conferências do clima. A COP 30 tem um mote econômico. E a energia está na base do desenvolvimento, então a gente não pode falar de desenvolvimento global sem falar em energia. Não se pode falar de energia sem reconhecer que, no mundo, 86% da energia primária vem do combustível fóssil. E não se pode perder de vista também, porque aqui não tem nenhum negacionista, que a gente tem uma questão de clima a enfrentar. Agora, a situação do Brasil é diferente da média mundial. O mundo almeja chegar a 2050 com 39% da matriz energética de fonte renovável. O Brasil tem hoje 53%. O país quer chegar [em 2050] com 64%. Significa dois terços de toda a energia consumida no Brasil oriunda, de fonte renovável. Quem tem isso?
Valor: Vimos petroleiras recentemente retrocedendo no investimento das fontes renováveis. A própria Petrobras parece ser menos ambiciosa hoje do que era no tema no começo do governo Lula...
Chambriard:Acho que não, aumentamos a expectativa de investimento em renovável. A nossa expectativa de investimento em renovável no plano 2024-2028, feito em 2023, quando o Lula assumiu, era de 11% de investimento total. Aumentamos o capex total e também esse percentual para 15%.
Valor: Os projetos mudaram?
Chambriard:O plano anterior estava muito focado em solar e eólica. Mas a infraestrutura na Petrobras, incluindo logística e distribuição, é boa para líquidos. Entendemos que não podíamos deixar os líquidos de fora. E nos líquidos entra a volta para o etanol, o aumento do biodiesel e os combustíveis novos coprocessados [diesel verde e combustível sustentável de aviação]. Como estamos retrocedendo se acabamos de fazer o diesel até 10%? [adição de 10% de óleo vegetal ao diesel]. Ninguém faz isso no mundo. Estamos avançando e rápido.
Valor: Voltando à Foz do Amazonas, a Petrobras considera que haveria necessidade de fazer outras perfurações além dessa nesse primeiro poço para o qual se requer agora a licença?
Chambriard:Ninguém explora uma região para furar um poço só. Na Bacia de Campos, até hoje a mais prolífera, a gente furou o primeiro poço, deu seco. Furou o segundo, deu seco. Furou o terceiro, deu seco. A primeira descoberta foi no nono poço. O temos programado na bacia da Foz do Amazonas são oito poços. Um mais sete. Esse primeiro a Petrobras resolveu fazer antes dos demais, mas temos um processo de licenciamento em curso. A primeira licença é para esse primeiro poço e depois consideramos uma licença conjunta para esses outros sete. É uma área que exige esforço diferente pelas características geológicas. Esse primeiro poço vai nos dar informações relevantes, seja ele uma descoberta ou um poço seco para calibrar a sísmica para enfrentar os outros poços. No total, no nosso plano de negócios, no quinquênio, nós temos previstos cerca de 30 poços para margem equatorial, desde o Amapá até o Rio Grande do Norte.
Valor: Na quarta-feira (21), o Senado aprovou projeto de lei de um novo marco de licenciamento ambiental. A proposta tem uma emenda que cria um “fast track” para alguns licenciamentos como o da Foz do Amazonas. Qual é a sua opinião sobre esse novo marco?
Chambriard:Minha opinião é que é um processo em trâmite que nós vamos prestar atenção nele, olhar e lidar com ele quando ele for aprovado.
Valor: Reformulando a pergunta, acredita que há necessidade de uma atualização do atual marco ambiental?
Chambriard:Vou deixar esse trâmite para o governo.
Valor: Como vai ser conciliar investimentos em momento em que o preço do petróleo está em queda?
Chambriard:A primeira coisa é que não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração. Quando olhamos a Petrobras e os nossos pares, a gente vê que estamos carentes de novas áreas para explorar. Onde é que vamos explorar? Vamos explorar no Brasil e fora dele, onde tiver oportunidade no nosso nicho de negócios, que são águas profundas e ultraprofundas. Nós somos bons [na operação] na margem atlântica brasileira, então podemos ser bons também na margem atlântica africana. É um ponto de interesse pra gente.
Valor: E há oportunidades a curto prazo na África?
Chambriard:Estamos olhando. Isso não é um objeto de prateleira, exige esforço, estudos, alocação de bens de serviços para chegar a essa conclusão. Hoje produzimos, em termos de petróleo cru, fora gás, um número da ordem de 3.2 milhões de barris por dia. Desse número, 90% são operados pela Petrobras. E quando vai ser nosso pico de produção? Será em torno de 2030-2032. Até lá a gente aumenta a produção um pouquinho, uns 300, 400 mil barris por dia. E depois começa a declinar. Só que o petróleo é hoje o primeiro produto de exportação brasileiro. Em 2024, pagamos R$ 270 bilhões em tributos, sejam eles federais, estaduais ou municipais. Então, essa empresa é de interesse do país? É interessante que essa empresa tenha sua produção declinante? Primeira coisa que vamos perder é saldo na balança comercial e [arrecadação] de tributos. Considerando que a Petrobras é importante nisso tudo, temos que explorar mais, repor reservas. E onde vamos repor? Onde Brasil e o mundo tiverem para nos oferecer.
Valor: O jornal Folha de S. Paulo publicou ontem matéria dizendo que o governo pretende inserir na previsão de receitas federais de 2025 os ganhos a serem obtidos com um novo leilão de petróleo. A Petrobras está participando dessas discussões de alguma maneira?
Chambriard:Olha, o que eu tenho conhecimento é que nós temos em alguns campos, nesses três específicos [Tupi, Mero e Atapu, no regime de partilha da produção], um pedaçozinho do campo que transcende o limite dos contratos. Então tem um pedaçozinho de Tupi fora do limite da área contratada, o mesmo em Mero e Atapu. Entendo que a Agência Nacional do Petróleo tem interesse de licitar essas áreas. É um óleo que, estando fora da área contratada, pertence sim à União e ela tem todo o direito de licitar.
Valor: Significa que a ANP vai colocar essas áreas em leilão?
Chambriard:cSim, quando achar mais conveniente.
Valor: Se a ANP colocar essas áreas em leilão, a Petrobras é candidata a comprar?
Chambriard:Temos interesse nas áreas ofertadas no Brasil. Nenhuma licitação no Brasil vai passar despercebida da Petrobras.
Valor: Como estão os planos de venda de ativos? Tem alguma área que pretenda se desfazer?
Chambriard:A Petrobras botou [à venda] o Polo Bahia. É o último remanescente de terra junto com a operação no Amazonas. Mas [o Polo Bahia] não vendeu no prazo pretendido. Isso tem que parar em pé em termos de negócio.
Valor: E a venda da Braskem e a volta para a refinaria de Mataripe, na Bahia, como estão?
Chambriard: A Braskem é a sexta maior petroquímica do mundo, já foi a segunda. Temos 38% da empresa. É um ativo que nos interessa. Mas vamos estatizar a Braskem? Não. Queremos que a Braskem dê certo, seja útil para a sociedade, gere valor para o Brasil, aloque o nosso gás e gere o retorno pretendido. Queremos uma Braskem lucrativa. Tem questões societárias a serem resolvidas e daremos todo o suporte à Braskem o tempo todo, porque é nossa obrigação societária. No caso de Mataripe, quando eu cheguei aqui havia uma conversa que era muito mais da mídia do que interna, dizendo que a gente ia comprar a refinaria. Eu gosto de negócios lucrativos. Não gosto de vender, mas de comprar. Mas gosto de comprar negócios que deem lucro e tenham sinergias para capitalizar com a Petrobras. Até onde eu vi, existia na Petrobras uma troca de correspondências falando de um determinado valor da refinaria.
O Estado de S.Paulo - SP 23/05/2025
No caminho do Brasil, há uma pedra que precisa ser removida. Não é geológica, mas institucional – uma regra mal desenhada que bloqueia a concorrência e reduz o valor de nossa maior riqueza mineral: o petróleo. Retomar a proposta que elimina o direito de preferência da Petrobras nos leilões do pré-sal é um passo decisivo para reorientar o País no sentido do interesse público. Corrigir essa distorção é resgatar o princípio da igualdade de condições – base de qualquer leilão legítimo – e ampliar os recursos disponíveis para prioridades nacionais como saúde, educação e inovação.
Esse direito de preferência foi um enxerto tardio no projeto original que abriu o pré-sal à participação de outras empresas. Um acordo político costurado para garantir a aprovação no Congresso, mas que comprometeu o modelo adotado. O custo foi alto: menos competição, menor arrecadação e menos recursos para o Fundo Social, com impacto direto sobre áreas vitais para o desenvolvimento nacional.
A lógica dessa vantagem legal é insustentável. Todos sabem que a Petrobras é quem mais conhece o pré-sal – foi ela quem o descobriu. Mas o Estado criou uma assimetria concorrencial por lei. Um disparate. Com a mudança na Lei da Partilha, que abriu o setor à concorrência, os leilões foram destravados e tiveram êxito. Mas o direito de preferência, mantido como moeda de apaziguamento político, comprometeu a competição e reduziu o potencial arrecadatório. Se a Petrobras manifesta interesse, os outros recuam. Se ela não entra, os demais desconfiam. Em ambos os cenários, o Brasil arrecada menos – e perde oportunidades estratégicas.
O leilão de Libra, o primeiro do pré-sal, ilustra esse efeito. O certame terminou sem ágio, com proposta de um único consórcio: Petrobras (40%), Shell e Total (20% cada), e as chinesas CNPC e Cnooc (10% cada).
Outro exemplo marcante são as duas rodadas de licitações dos volumes excedentes da cessão onerosa. Na primeira, em 2019, a Petrobras exerceu o direito de preferência para Búzios e Itapu. Atapu e Sépia, mesmo com grande potencial e presença de majors, não receberam ofertas válidas. Na segunda rodada, em 2021, com regras mais claras e papéis previamente definidos, essas áreas foram finalmente arrematadas com ampla competição, mostrando como o tratamento desigual molda o comportamento dos agentes e o desenho final dos leilões.
Esses casos não apenas revelam os efeitos negativos da prerrogativa exclusiva, como também apontam caminhos para soluções concretas. Um deles é a possibilidade de o Conselho Nacional de Política Energética autorizar a relicitação de áreas do pré-sal sob o regime de concessão, inclusive campos devolvidos que, embora inviáveis na partilha, podem ser viáveis sob outro regime. Na concessão, a arrecadação se dá por royalties, participações especiais e bônus de assinatura – com ganhos diretos para União, Estados e municípios. Já na partilha, apenas a União recebe participação sobre a produção, enquanto os entes subnacionais perdem a participação especial.
O Campo de Peroba, devolvido pela Petrobras em 2021, é um desses casos. O consórcio havia oferecido 76,96% de excedente em óleo à União para ficar com a área. Já o Campo de Juruá, originalmente da Petrobras, foi devolvido à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), ofertado em 2019 sob o modelo de Oferta Permanente e arrematado pela Eneva por R$ 25,7 milhões. Localizado no Amazonas, o campo possui 25,9 bilhões de m³ de gás não associado, com potencial relevante. Mostra que ativos rejeitados sob certas condições podem revelar grande valor em contextos diferentes.
Além disso, a relicitação com bases mais flexíveis pode ampliar a diversidade de agentes no setor. Operadoras independentes com estratégias voltadas a nichos específicos, como pequenas reservas ou gás natural, ganham espaço, contribuindo para empregos, dinamização regional e arrecadação local. É uma chance de democratizar o acesso ao pré-sal e expandir os benefícios da exploração para além do eixo das grandes petroleiras.
Há quem defenda esse tratamento preferencial como proteção à Petrobras. Discordo. Nossa petroleira é um orgulho nacional – fruto de uma longa luta pela soberania energética, da qual participei como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) entre 1963 e 1964. Não proponho restringi-la. Corrigir esse favorecimento legal é proteger sua saúde financeira e permitir que o País usufrua melhor os frutos do pré-sal. O Brasil precisa de leilões disputados, investimentos privados e arrecadação robusta. Precisa, sobretudo, de uma política energética que sirva ao País – e não a uma única empresa, por maior que seja o nosso orgulho por ela.
Como disse o ministro do petróleo da Arábia Saudita nos anos 70, a era da pedra não acabou por falta de pedra. Tampouco a era do petróleo terminará por falta de petróleo. Mas pode acabar sem que o Brasil colha todos os frutos dessa riqueza. O pré-sal pode – e deve – financiar o presente e o futuro: saúde, educação e a transição para energias renováveis, como o etanol. Tirar essa pedra do caminho é o primeiro passo.
Valor - SP 23/05/2025
Entre eles está o conhecido poço FZA-M-59 ("Morpho"), que aguarda a emissão da licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
A Petrobras programou para os próximos anos a perfuração de oito poços na Bacia da Foz do Amazonas. O número inclui o conhecido poço FZA-M-59, que está aguardando a emissão da licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), disse a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
Em entrevista exclusiva ao Valor, nesta quinta-feira (22), Chambriard afirmou que a estatal optou por separar o licenciamento do poço FZA-M-59, também denominado “Morpho” dos demais.
O processo de licenciamento dos sete poços, ressaltou, também está sendo analisado pelo Ibama, porém a estatal buscou a análise das áreas em bloco, de forma conjunta.
Ela explicou que a área do poço à espera da licença do Ibama vai dar informações “muito relevantes” para a estatal antes de realizar as demais sete perfurações, porque as características geológicas apresentadas vão exigir um esforço diferente por parte da estatal.
“Muito provavelmente, esse primeiro poço vai nos dar informações muito relevantes. Seja uma descoberta, seja um poço seco, vai dar informações importantes para calibrar nossa sísmica, vai ser uma informação a mais para a perfuração do poço seguinte”, disse a executiva.
Como exemplo, Chambriard menciona a Bacia de Campos, cujas primeiras descobertas se deram após várias perfurações.
“Se a gente furar um primeiro poço e logo der descoberta, nós ficamos muito felizes. Se a gente perfurar e der seco, a gente vai dizer que esse é o primeiro passo. Ninguém explora uma região para furar um poço só”, disse Chambriard.
Para a Margem Equatorial, extensa área petrolífera entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, a Petrobras prevê, no plano de negócios da companhia, a perfuração de 30 poços nos próximos cinco anos, segundo a executiva.
Marco legal do licenciamento ambiental
Questionada a respeito da aprovação do marco legal do licenciamento ambiental no Senado, na noite da quarta-feira (21), a presidente da Petrobras fez apenas a seguinte afirmação: “Vamos prestar atenção e lidar com ele quando for aprovado.”
O marco legal do licenciamento ambiental estabelece regras que simplificam processos de licenciamento. Na tramitação do projeto de lei no Senado, foi incluída uma proposta do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que cria uma licença ambiental especial. A leitura é de que essa licença pode impulsionar projetos como a exploração da Margem Equatorial.
O projeto de lei aprovado no Senado retornará à Câmara dos Deputados.
União e o regime de partilha
Chambriard avalia que a União tem o direito de licitar parte de campos de petróleo localizados no pré-sal que estão sob o regime de partilha e fora de áreas que foram contratadas anteriormente.
A executiva afirmou que nos campos de Tupi, Mero e Atapu, localizados na Bacia de Santos, existe “um pedaçozinho” que transcende o limite dos contratos de partilha.
A “Folha de S. Paulo” publicou nesta quinta que o governo pretende inserir na previsão de receitas de 2025 eventuais ganhos a serem obtidos com um novo leilão de petróleo. Segundo o jornal, a medida aliviaria o cenário de restrição orçamentária do ano e o cálculo sobre a necessidade de contingenciamento de recursos, apesar do efeito não ser imediato para as contas públicas.
A proposta do governo seria a de colocar à venda a totalidade do excedente da União em áreas do pré-sal não contratadas dos campos de Tupi, Mero e Atapu. Em março, a estimativa era de um potencial de receitas entre R$ 23 bilhões e R$ 37 bilhões — mas o cenário mudou com a queda das cotações internacionais do petróleo.
O entendimento de Chambriard é de que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tem interesse em licitar tais áreas.
“A gente tem expectativas de qual é a porção desses campos, são muito pequenos, mas é um óleo que, estando fora da área contratada, pertence, sim, à União. E ela tem todo o direito de licitar”, afirmou Chambriard.
De acordo com a “Folha de S. Paulo”, o percentual não contratado do campo de Tupi é de 0,8% do total; de 0,95% em Atapu; e de 3,5% em Mero.
No contrato de partilha de produção, o Estado brasileiro é proprietário do petróleo e gás natural produzidos em áreas do pré-sal, de modo que as petroleiras atuam como operadoras. A Pré-Sal Petróleo (PPSA) é a responsável pela gestão de 17 contratos no regime de partilha.
Nos leilões passados e na chamada oferta permanente de partilha (OPP), as petroleiras disputam áreas no pré-sal e o critério para vitória é da oferta à União do excedente em óleo.
Excedente em óleo é a parcela da produção de petróleo e/ou gás natural a ser repartida entre a União e a empresa vencedora, segundo critérios definidos no contrato e o percentual ofertado na rodada.
As áreas não contratadas do pré-sal são jazidas que estão localizadas fora de uma área sob contrato. Quando um campo de petróleo que foi licitado possui uma jazida que também está dentro de uma área não contratada, é necessário que os titulares dos direitos de exploração e produção das áreas adjacentes firmem com a União, o chamado "acordo de individualização de produção" (AIP). O acordo permite o desenvolvimento e a produção de uma jazida compartilhada. A União, por meio da PPSA, é a representante dessas áreas não contratadas.
Valor - SP 23/05/2025
Comércio leva em conta demandas internas, questões de refino e o mercado internacional
O óleo bruto de petróleo ocupa a primeira posição na lista de produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, em 2024. No ranking das importações americanas para o Brasil, no ano passado, ele também está presente - na sexta colocação. Ou seja, os dois países vendem e compram a mesma commodity um do outro. Parece não fazer sentido, mas o que vai e o que vem não é exatamente igual e segue a uma lógica comercial regida por diferentes variáveis.
O petróleo é uma mistura complexa de hidrocarbonetos. Cada um deles têm características distintas, como as diferentes densidades. Os leves têm maior rendimento em nafta; os médios, maior rendimento em querosene de aviação (QAV) e diesel; e os pesados, maior rendimento em óleos combustíveis, asfaltos e resíduos.
O que o Brasil exporta para os EUA, majoritariamente, tem origem no pré-sal e se caracteriza por ter médio ou baixo teores de enxofre. “É petróleo de alta qualidade, por ser leve, de baixo teor de enxofre e menor pegada de carbono, o que lhe garante alto valor agregado e exige um processo industrial menos complexo de refino”, afirma Mahatma Ramos dos Santos, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
O produto americano importado, por sua vez, tem outras características. “Quando existe demanda e economicidade, a Petrobras importa óleos leves do Golfo americano, com qualidade distinta dos petróleos produzidos no Brasil, para complementar e otimizar a cesta de petróleos processados em suas refinarias”, afirma a estatal.
A equação que determina a compra é composta por, além da demanda, outros fatores, como a capacidade de refino. “A configuração técnica de cada refinaria, somada ao tipo de petróleo processado, determina quais produtos serão gerados em maior ou menor quantidade”, explica Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
Segundo ele, esse não é um balanço simples de fechar, principalmente considerando que o Brasil consome mais alguns derivados do que outros. “Nesse sentido, o parque de refino brasileiro trabalha com um blend propício para a viabilidade econômica da operação, respeitando a sua configuração e o planejamento de abastecimento do país”, afirma Ardenghy.
O Brasil exportou US$ 7,5 bilhões em petróleo bruto e óleos combustíveis em 2024, de acordo com dados da Câmara Americana de Comércio (Amcham). Em relação ao ano anterior, o número representou um crescimento de, respectivamente, 23,1% e 41,6% no faturamento com os dois itens da pauta comercial. No sentido contrário, os EUA venderam ao Brasil US$ 6,4 bilhões, com queda de 18% e 9,2% respectivamente.
Brasil tornou-se alternativa para suprir Europa após sanções à Rússia, diz João Cardoso
Em 2024, pela primeira vez em sua história, o Brasil exportou mais da metade de sua produção. Ao todo, 52% do petróleo extraído no país foi vendido para o exterior. China e EUA são os dois principais destinos. “O Brasil se consolidou como um país exportador da commodity e tornou-se alternativa ao suprimento europeu após o início de sanções à venda pela Rússia devido à guerra na Ucrânia”, explica João Victor Marques Cardoso, pesquisador da FGV Energia.
Com o crescimento recorde, a participação da Petrobras nas exportações totais do Brasil caiu de 43% em 2021 para 38% em 2024. “Para os EUA, a queda na participação da Petrobras nas exportações brasileiras foi ainda mais expressiva, de 42% em 2021 para 17% em 2024”, afirma Cardoso.
Mesmo assim, a companhia segue tendo bons resultados. “A Petrobras é superavitária em petróleo e exporta o volume que excede a necessidade de processamento nacional. As decisões sobre o destino final das exportações são tomadas a cada carga negociada, a depender das condições de mercado”, afirma a empresa.
Na lista de produtos que se repetem nos dois sentidos da pauta comercial, também estão os óleos combustíveis de petróleo. Em 2024, o Brasil comprou dos EUA mais do que o dobro, em valor, deste item. “O parque nacional de refino pode ser uma ferramenta industrial estratégica para superar a exportação de petróleo cru e avançar no comércio internacional de derivados, produto de maior valor agregado. Isso ajudaria no desempenho de nossa balança comercial e poderia gerar empregos mais qualificados na indústria nacional”, diz Santos.
Para Cardoso, o futuro desse fluxo comercial depende da capacidade de reposição de reservas, em ambos os países, de modo a manter excedentes exportáveis, uma vez que o pico de produção do Brasil e dos EUA deve ocorrer por volta de 2030. “Em termos geopolíticos, a relação oferece vantagens ao Brasil, uma vez que os EUA têm acirrado as sanções contra o petróleo da Venezuela, Rússia e Irã.”
Valor - SP 23/05/2025
O aumento da migração de grandes consumidores do mercado cativo para o livre de gás natural não deve ter efeitos nos perfis de crédito das distribuidoras de gás natural, diz a Fitch Ratings.
Os analistas Leonardo Coutinho e Gustavo Mueller escrevem que a tarifa de uso do sistema de distribuição e os reequilíbrios tarifários previstos nos contratos de concessão serão capazes de proteger a geração operacional de caixa das empresas.
Eles estimam que a migração reduzirá em 38% o volume faturado pelas distribuidoras avaliadas em 2027, na comparação com 2024, ocorrendo principalmente no segmento industrial, o mais representativo para as distribuidoras.
A menor representatividade do segmento industrial na receita da Comgás beneficia sua rentabilidade frente a seus pares, dada a maior margem de contribuição de clientes comerciais e residenciais, afirma a agência de classificação de riscos.
Valor - SP 23/05/2025
CEO afirma que a empresa está oferecendo o que é considerado o maior plano individual de emergência já visto na indústria para a perfuração em águas profundas e ultraprofundas no Amapá
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse não ver nenhuma razão para que a licença ambiental de perfuração na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá, na Margem Equatorial, não ser concedida. A executiva afirmou que sempre contou com a autorização pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), embora não saiba precisar quanto tempo o órgão ambiental deve demorar para concedê-la.
Confira os resultados e indicadores da Petrobras e das demais companhias de capital aberto no portal Valor Empresas 360
Segundo ela, em entrevista exclusiva ao Valor, nesta quinta-feira (22), a estatal está concentrando os esforços na fiscalização a ser feita pelo Ibama no centro de atendimento à fauna, implantado pela estatal no município de Oiapoque (AP).
Também está focada na avaliação pré-operacional (APO), simulação de vazamento de óleo na região a ser explorada para que a petroleira comprove capacidade de reagir a eventuais acidentes. A APO é o último passo antes da decisão sobre a licença ambiental.
Chambriard disse ainda que a empresa está oferecendo o que é considerado o maior plano individual de emergência já visto na indústria para a perfuração em águas profundas e ultraprofundas no Amapá. Afirmou também que se o Ibama demorar “mais um pouquinho” para agendar a realização da APO ou a vistoria do centro de fauna, será algo fora do controle da estatal.
O plano envolve, de acordo com a presidente da Petrobras, mais de uma dezena de navios, equipamentos de contenção de óleo e aeronaves, entre outros equipamentos. “Se a Petrobras não conseguir cumprir os condicionantes ambientais, quem vai conseguir?”, pergunta.
A executiva ressaltou também que a companhia está “confortável” com o que está sendo oferecido, dentro do licenciamento do poço a ser perfurado, em termos de contenção de eventuais vazamentos de óleo no processo de perfuração.
O Ibama aprovou, nesta semana, a implantação do centro de fauna, para remoção de petróleo de espécies que possam, eventualmente, ser atingidas por possíveis vazamentos, e autorizou a Petrobras a realizar a APO.
As datas da vistoria do Ibama ao centro de fauna e da realização da simulação ainda serão agendadas pelo órgão ambiental.
Valor - SP 23/05/2025
Renan Filho disse que já foram firmados seis acordos semelhantes com outras concessionárias e que há expectativa de realizar sete processos de repactuação ainda em 2025
O ministro dos Transportes, Renan Filho, celebrou nesta quinta-feira o resultado do leilão da BR-163/MS como um marco para a infraestrutura nacional e afirmou que o modelo de repactuação com processo competitivo deve destravar até R$ 108 bilhões em investimentos em contratos com obras paradas.
Segundo o ministro, a iniciativa também trará benefícios diretos à população, como serviços de socorro médico, atendimento mecânico, câmeras de monitoramento e cobertura 4G ao longo de toda a rodovia. “Serão R$ 17 bilhões em obras e serviços que vão transformar a infraestrutura do Mato Grosso do Sul e ajudar a impulsionar o desenvolvimento do Estado”, afirmou.
Renan Filho disse que já foram firmados seis acordos semelhantes com outras concessionárias e que há expectativa de realizar sete processos de repactuação ainda em 2025.
"Alguns contratos ainda precisam passar pelo crivo do TCU [Tribunal de Contas da União], outros estão no início da discussão. No mês que vem, já teremos mais um processo marcado. Este é um novo momento para o Brasil."
Globo Online - RJ 23/05/2025
Nenhuma empresa apresentou propostas para o novo leilão da BR-163, nesta quinta-feira (22), na Bolsa de Valores (B3), em São Paulo, feito pelo Ministério dos Transportes. A atual concessionária, a Motiva (antiga CCR), continua com o contrato.
Esse foi o primeiro leilão do setor de infraestrutura no modelo de “teste de mercado”, em que a atual concessionária — que participou de uma repactuação do contrato — apresentou uma proposta. A partir dessa proposta, outros interessados poderiam fazer lances, o que não aconteceu. A Motiva apresentou oferta de R$ 0,07521 por quilômetro.
A rodovia atravessa o estado do Mato Grosso do Sul e é um dos grandes corredores logísticos do agronegócio brasileiro. O trecho concedido tem 847 quilômetros, sendo fundamental para o escoamento de grãos como soja e milho na região Centro-Oeste. Segundo o governo, a BR-163 faz parte do conjunto das rodovias que compõem a Rota Bioceânica, que visa conectar o Brasil ao Oceano Pacífico por meio de um corredor logístico que passa pelo Paraguai, Argentina e Chile.
A ideia desse novo formato de certame era aumentar a competitividade na renegociação de contratos considerados defasados, buscando melhorar as condições das rodovias que apresentam baixos índices de qualidade. Assim, o governo garante a continuidade dos serviços e obras, sem precisar esperar o fim dos contratos para fazer um novo leilão.
O contrato prevê R$ 16,59 bilhões em investimentos ao longo de 29 anos, com foco na modernização, ampliação e aumento da segurança da rodovia. Devem ser criados mais de 134 mil empregos diretos e indiretos A proposta foi construída pelo Ministério dos Transportes, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Entre as obras previstas estão 203 km de duplicação, 147,77 km de faixas adicionais, 28,82 km de contornos e 22,99 km de vias marginais. Também estão incluídas 22 passarelas, 144 pontos de ônibus, 56 passagens de fauna e três Pontos de Parada e Descanso (PPDs) para caminhoneiros. O novo contrato deverá entrar em vigor em até três meses após o certame.
A CCR (agora Motiva) venceu o leilão da BR-163 em 2014. Pelo contrato, todo o trecho deveria ser duplicado até 2019, o que não aconteceu. Naquele ano, a empresa pediu a devolução amigável da concessão e os termos foram repactuados em 2024.
O valor atual do pedágio é de R$ 7,52 a cada 100 km. Se algum concorrente oferecer um valor menor, a Motiva pode apresentar uma nova proposta. Sai vencedor quem oferecer a menor taxa, desde que assuma todos os compromissos do contrato. Caso a atual concessionária perca, o contrato prevê indenizações.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que o novo modelo de concessão é inovador por buscar soluções baseadas no consenso e no entendimento, evitando a judicialização de contratos com obras paralisadas. Segundo ele, a proposta também garante a contratação por preços iniciais inferiores aos praticados nos novos leilões, “uma solução muito inovadora, que certamente o Brasil vai exportar para o mundo”.
Ele explicou que parte dos problemas enfrentados nos contratos antigos se deve a projeções desatualizadas ou imprecisas:
— Quando estimou-se o custo da obra, não foi levado em consideração o preço do petróleo, o que impacta diretamente no preço do asfalto. Sem corrigir a tarifa, não tem mais sustentação naquele contrato. Então, problemas desse tipo aconteceram. Ou então, por exemplo, estima-se que naquela rodovia vão passar por dia mil carros e na verdade estão passando 800, com redução de 20%. Isso representa perda de faturamento. Como manter o investimento com perda de faturamento? Essas brechas foram corrigidas nos novos contratos.
Questionado sobre a baixa concorrência no certame, Renan Filho avaliou que isso pode estar relacionado ao fato de as tarifas estarem partindo de um patamar mais baixo.
— O entrante está olhando: prefiro participar do leilão novo ou eu prefiro participar da otimização? O mais importante é dar oportunidade. Agora, a competição é questão mercadológica. Por quê? Porque você tem que convencer a outros privados que aquele ativo que teve um problema no passado é rentável. Então, eles olham isso. Mas o modelo é 100% aberto. Eu acredito que nós teremos otimizações em que nós teremos concorrência.
O que dizem especialistas
Ana Cândida, sócia da área de Infraestrutura e Regulação do BMA Advogados, avalia que a simples realização do Procedimento Competitivo Simplificado (PCS) — esse novo modelo de leilão — já cumpre o papel a que se propõe. Isso porque o processo dá transparência ao que foi pactuado e garante igualdade de condições a qualquer interessado no ativo.
Com o leilão, a antiga concessionária passa a ter que cumprir novos compromissos assumidos durante o processo. O contrato é modificado para incorporar esses ajustes.
— Talvez, na prática, seja difícil para um player externo, ou seja, que não conhece o ativo, apresentar uma proposta melhor do que aquela formulada pela concessionária que vinha operando o ativo por vários anos, sobretudo sob a ótica dos temas que resultaram na deterioração da capacidade de execução do contrato ou de performance do ativo.
Já Luiz Paulo Ferreira, advogado especialista em Infraestrutura, PPPs e concessões do Cascione Advogados, explica que o critério de julgamento adotado foi o maior desconto sobre o pedágio, a partir de um teto de R$ 0,0752 por quilômetro para pista simples. Se o desconto oferecido ultrapassasse 18%, o modelo exigia aportes financeiros adicionais, proporcionais à redução proposta.
— Esse modelo de julgamento busca aproximar os preços aos que seriam praticados em um mercado competitivo. Dessa forma, a ausência de interessados não necessariamente indica um fracasso do modelo simplificado adotado, mas pode sinalizar que o valor proposto já estava próximo ao limite viável para cobrir os custos médios de operação e manutenção da rodovia.
Portanto, embora não tenham surgido outras propostas, isso não significa automaticamente que o modelo simplificado tenha falhado, diz o especialista, mas sim que a estrutura tarifária já estava ajustada ao limite financeiro para novos interessados entrarem na concessão.
Valor - SP 23/05/2025
Para a CNA, projeto fará com que processos de licenciamento tenham “começo, meio e fim”
IMAGEM.05.23.05
Tereza Vendramini: projeto irá destravar empreendimentos como a Ferrogrão e a Hidrovia Tocantins-Araguaia — Foto: divulgação
O projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental, aprovado anteontem (21) no Senado, é resultado de uma discussão que visa a destravar processos de licenciamento para que eles tenham “começo, meio e fim”, diz o consultor de meio ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Justus.
“O licenciamento hoje só tem data para começar, não tem data para terminar. Há obras com 20 anos sem ter a licença ambiental e sem prazo para ter. Se algo não pode ser feito, que seja indeferido de vez, se houver um óbice. O que não pode é ficar enrolando, em uma operação pingue-pongue, pedindo estudos atrás de estudos”, diz.
“O texto aprovado é o texto possível, considerando todas as nuances e questões envolvidas. O projeto tem todos os dispositivos para dar celeridade, com um marco legal com segurança jurídica, porque hoje o Brasil está afugentando investidores”, diz.
A CNA defende a ratificação do texto na Câmara dos Deputados, onde a matéria teve origem e para onde deve voltar após o aval dos senadores. Aprovado por 54 votos a 13, o PL é discutido há 21 anos. De lá para cá, sofreu inúmeras mudanças e é criticado por ambientalistas e organizações da sociedade civil, que dizem ser um retrocesso para a proteção ambiental.
Uma das críticas é que o setor agropecuário seria um dos beneficiados pela flexibilização. Na visão de ambientalistas e juristas, isso seria inconstitucional, sob o argumento de que não se pode escolher alguns setores para ter esse processo agilizado.
Em resposta, o representante da CNA sustenta que em nenhum outro país o segmento agropecuário precisa de licenciamento ambiental para operar, e que no Brasil não deveria ser diferente.
“A atividade agropecuária não necessita de licenciamento ambiental, porque já é amplamente regulada por diversas leis, como o Código Florestal”, diz. Ele afirma que há normas que definem onde e como a terra pode ser usada, além de regulamentação sobre o uso de agrotóxicos, fertilizantes, água, controle de erosão e manejo de resíduos.
O projeto prevê a dispensa do licenciamento para cultivos agrícolas, pecuária extensiva e semi-intensiva e pecuária intensiva de pequeno porte, desde que apresentem o Cadastro Ambiental Rural (CAR) homologado sem déficit de vegetação ou em regularização. Os projetos de pecuária intensiva de médio porte poderão obter a Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que é autodeclaratória.
Para os imóveis que quiserem realizar algum desmate previsto pela legislação ou utilizar recursos hídricos, ainda será obrigatória a obtenção de licença ambiental.
Justus atribui as críticas a uma “retaliação” à posição do setor na discussão. “Viramos alvo e fomos declarados inimigos por conta do nosso posicionamento sobre as compensações ambientais.”
A compensação ambiental obriga o empreendedor a arcar com os impactos causados por seu projeto, mas o agro e a indústria defendem que essas medidas tenham relação direta com o empreendimento. Esses setores criticam casos como o da Usina de Belo Monte, em que foi exigido saneamento para uma cidade antiga sem ligação com a obra.
O texto proposto pelo setor, afirma Justus, define que compensações devem ser proporcionais e específicas aos impactos. Também prevê prazos para que órgãos intervenientes, como a Funai, se manifestem, para evitar atrasos e exigências “desproporcionais”.
Quanto à Emenda 198, que cria a Licença Ambiental Especial (LAE) para que projetos considerados estratégicos em âmbito nacional tenham prioridade, Justus diz que não se trata de uma “carta branca” para “obras serem licenciadas na marra”, mas reconhece que faltou debate e diz que o tópico pode ser suprimido na Câmara.
Incluída no apagar das luzes pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil -AP), a emenda é uma das medidas mais polêmicas do texto. “Vai haver uma discussão a respeito disso na Câmara. E quando for para o Poder Executivo, o presidente ainda tem a prerrogativa de vetar”, diz.
Para Teresa Vendramini, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, o avanço do projeto “é uma desburocratização, um avanço contra o excesso das normas”.
Ela espera que a redução das exigências destrave projetos que apoiem o escoamento de produtos agropecuários, como a Ferrogrão e a Hidrovia Tocantins-Araguaia. Para “dentro da porteira”, sua expectativa é de que as novas regras destravem “projetos pequenos que às vezes são barrados”.
Questionada sobre a crítica de que a redução de exigências leve a excessos, Vendramini afirmou que “sempre vai ter alguém que cometa excessos”, mas que está pensando “na maioria dos produtores”.
Para Vamilson José Costa, sócio do Costa Tavares Paes Advogados, a “ineficiência do Estado” que hoje atrasa licenças “legítimas” vai dificultar a fiscalização dos projetos dispensados da obrigação.